Páginas

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sexualização precoce



Thainá e sua irmãzinha Isabelli
  Precisamos rever com muito cuidado nossas crianças. Há uma sexualização muito rápida em nossas meninas. Debaixo de nosso nariz, nossos garotos estão antecipando a vida sem que percebamos. Infelizmente eles vivem uma vida de liberdade sexual irresponsável sem proteção nenhuma da banalização, que os fazem objeto e tira suas dignidades. Qual é o ambiente que damos a eles como referencia? Conseqüência de uma sociedade deliberativa que caminha contra os valores sem nenhum respaldo. Aqueles que as seguem enfrentam dura realidade porque o sistema na maioria das vezes acondiciona para serem assim. O sistema destruidor bate o tempo todo na porta de nossas casas, isso quando não invade através dos meios de comunicação, socializando a irresponsabilidade na maneira de ser gente e de viver a sexualidade. Estamos falando muito mais do que um corpo, nós falamos de todo um psicológico, de todo um envolvimento, sem contar o fator determinante para a frustração humana. E no momento em que nos sentimos objetos é que se instalam dentro de nós os medos as inseguranças a falta de amor próprio e naturalmente todas as contaminações orgânicas e psíquicas gerando doenças de todos os aspectos. Não podemos deixar que nossa juventude se perca na hora em que se prepara para o futuro. Agora seria a hora de estudar! Situação sofrida dolorosa porque se vive uma maternidade solitária sem a menor condição de cuidar inibindo o encaminhar para uma realização. Educar bem uma criança é mostrar os valores para que não seja usada, abusada e também para não ficar com o amargo na boca, a chamada ressaca afetiva que às vezes nem se pode curar.

Mi - Base: FM - Cps, 29/09/10

Pedagogia humana


Miguel
 Proteção, uma forma segurança para nossas crianças crescerem no aprendizado e chegarem ao novo. E o aprendizado permite que elas substituam informação antiga ou errada por uma correta, só assim é que se avança no crescimento e no conhecimento. É a arte do conhecer. Com a pedagogia humana aprendemos que para uma criança crescer e aprender precisará ter a proteção daquele que a orienta, quando ela está em plena capacidade cognitiva. A partir daí a criança se encontra com o mundo surpreende-se com ele. Então começa as comparações e os avanços.

Mi - Base: FM Cps, 29/09/10

Singularidade x pluralidade


Lukas e Andressa
Auge de nossas buscas pessoais. Estamos dispostos a abrir mão delas para fazê-la em conjunto? A partir daí deixamos de ser single singular para ser plural. Ser solteiro nos dá o direito de pensar em nós em nossas coisas, partilhar com os nossos e elaborar nossos projetos. No momento que assumimos uma pluralidade perdemos o direito de pensar single sozinho e passamos a pensar plural de verdade e de acordo com a outra parte que assumimos. É de maternidade que estamos falando onde a vida impõe uma maturidade imensa num curto período de tempo. Quando exerce bem e vive bem o processo de ser mãe sabe-se do dividir, o que antes era pensado só para projetar-se, agora não se tem mais condições de pensar sem incluir a criaturinha que vive. Quase sempre nos apressamos em tomar atitudes e vamos numa ansiedade tamanha que acabamos vivendo um papel errado uma escola errada justamente por não ter paciência de esperar pelas coisas. Agora é hora de olhar para nossa vida e ver o quanto erramos, o quanto escolhemos errado justamente porque não soubemos esperar e na pressa nos estragamos muito. É bom termos consciência de que a vida sempre nos pede equilíbrio e a qualidade de nossas escolhas passam por este equilíbrio. Olhar para os contextos, para as circunstâncias quando não estamos felizes de mais e nem tristes de mais é sinal que agora vamos escolher com um pouco mais de lucidez. Já está preparado para passar a viver plural, ou seja, deixar de viver sua vida individual, singular, e passar a viver a vida de duas pessoas ao mesmo tempo. Isso é uma verdade, pode não ser absoluta, mas é uma verdade!

Mi - Base:FM - Cps, 29/09/10

Zelar a vida

Niver da avó e neta



















Ter zelo com a vida é passar o tempo todo pelo aprendizado. Fiéis amigos, pessoas mais próximas nos orientam e de repente são responsáveis pelo nosso crescimento nos ajudando a tomar consciência do que é antigo em nós que precisa ser mudado. Cuidar não é aconchegar ou acomodar no processo da vida, mas é dar base de todo o crescimento mostrando as possibilidades de mudanças para o viver nos motivando para sermos melhores nas prováveis circunstâncias. Nós e a nossa circunstância conforme José Ortega y Gasset, filósofo espanhol, na sua famosa frase: “A vida é uma série de colisões com o futuro, não é uma soma do que temos sido, e sim do que desejamos ser”. Ou seja, aquilo que nós pessoas somos está ligado as nossas circunstâncias e somos influenciados e transformados por elas. Mas não podemos esquecer que nós (o ser, a pessoa) também somos convidados a transformar as nossas circunstâncias. Interagimos o tempo todo. Imaginemos em nossos ambientes sermos nós o primeiro ser (pessoa) a transformar as circunstâncias. Aí não ficamos mais esperando que o outro seja melhor, que o outro seja honesto, que o outro seja verdadeiro. A responsabilidade de acreditarmos na possibilidade de um mundo diferente é nossa. A frase que Deus vai mudar o mundo só pode ser verdadeira quando nós assumimos o compromisso de sermos este mundo transformado. Ser gente é quando temos força que nos empenha e nos coloca numa luta o tempo todo para fazer a diferença no lugar onde estamos. Não é porque o papel nos proíbe ou nos permite que faremos ou não o errado. O ser humano fica melhor a medida que aprende e apreende a bondade como um código de conduta, de valor, de caráter, de cidadania, são valores que fazem diferença no lugar onde situamos. Se esta lei estiver internalizada em nós, ninguém nos segura e vamos longe nos princípios da honestidade, do respeito ao próximo, do amor a Deus, da fraternidade, assim que construímos o céu na terra. Pois o mundo começa em nós mais felizes, mais alegres, porque Deus não quer outra coisa, senão a Paz reinando em nossos lares. Só Ele nos traz e nos faz bem!

Mi - Base FM - Cps, 09/10

José Ortega y Gasset

E as ciências humanas
Para o filósofo (1883-1955) um dos intelectuais mais queridos da Espanha, desde quando nascemos até a nossa morte, tudo está em permanente mudança. Logo, toda a vida é um aprendizado. Portanto, o propósito pedagógico, no sentido mais amplo, faz parte da espinha dorsal de seu pensamento. "O homem tem uma missão de clareza sobre a Terra", dizia.

Concepção dinâmica da vida humana e a ambição de revolucionar a tradição filosófica, baseada numa avaliação cética das possibilidades do homem comum. A supremacia da razão e àquelas que buscam a verdade absoluta fora do mundo sensível, ou razão vital.

A racionalidade como função da vida é, algo que não pode ser separado das condições física, psicológica e social do indivíduo. A verdade também só é alcançável do ponto de vista de cada um. Para que o funcionamento da existência se estabeleça, é preciso que o indivíduo interaja com a sociedade

Esse é o sentido da mais famosa máxima de Ortega y Gasset: "O homem é o homem e a sua circunstância". Ele não considera o ser humano como sujeito ativo sem levar em conta simultaneamente tudo o que o circunda, a começar pelo próprio corpo e chegando até o contexto histórico em que se insere. A Educação vira um instrumento para que cada um possa conscientizar-se de sua circunstância, relacionar-se com ela e superá-la. "Se não a salvo, não me salvo eu", conclui o filósofo espanhol.
O conceito de razão vital é o fortalecimento do psiquismo infantil seria o objetivo prioritário, devendo ocupar pelo menos as primeiras séries, para buscar no conhecimento biológico suas motivações e perspectivas antes de inseri-lo na vida organizada dos adultos.

O ensino deveria introduzir conteúdos e tarefas com ênfase no estudo dos mitos da humanidade na circunstância de cada criança. Dizia que a escola tradicional educa apenas "para o ontem" e não com vistas ao futuro, do mesmo modo que oferece um preparo individual, mas não para a vida em sociedade.

Isso porque não leva em conta que cada aluno se articula, por uma rede de relações, a comunidades cada vez mais amplas. Do ponto de vista da educação política, deveria haver um esforço pedagógico para evitar a "rebelião das massas" (título de um de seus livros).

Para que o homem-massa não abandone sua desejável docilidade e caia no erro de assumir a função de exemplo, é necessário reforçar os fins morais da Educação e estimular, na minoria, a missão de esclarecer os demais.

Todo ser humano e toda formação social equilibrada, segundo o pensador, são como mecanismos em busca da perfeição. E a escola deveria ser um dos veículos desse processo. "A Educação, nas primeiras etapas, em vez de adaptar o ser humano ao meio, adapta o meio ao ser humano"

O que mantém o ser humano sempre voltado para o futuro é a possibilidade de criar sua história e não a de ter uma natureza determinada, mas só a minoria faz uso dessa prerrogativa. Um outro fator é a massa, constituída de pessoas limitadas e com noções obscuras sobre a própria circunstância.
"A cultura adquirida só tem valor como instrumento e arma para novas conquistas"

Mi - Cps, 29/09/10

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/pesquisador-conhecimento-423330.shtml

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ensinamento


Pelo fato de ser Deus a nos dar oportunidade, de entrarmos em uma vida de maneira certa e de oferecermos perdão, amor e misericórdia, nem de longe se pode avaliar o quilate da nobreza. Principalmente, quando Ele nos faz consertar corações, coisa simples e tão complexa na vida humana.

Encontrar uma pessoa e dar a ela valores é certamente Jesus agindo através de nós, somos o elo, ou o laço, que estabelece a união das pontas entre Ele e o necessitado. É impossível descrever o que é este pacto.

O ser humano jamais terá como mensurar esta atitude, mas sabe que é o referencial da verdade, mesmo assim finge ignorância.

O mundo acontece exatamente quando nossa palavra e gesto transformam àquele que cruza nossos caminhos. Se negligenciamos boas atitudes e queremos tê-las agora, Deus nos renova e nos enche de boas intenções  para com um coração conflituoso.

Não desprendamos da responsabilidade que Deus nos entregou: de ser Ele de novo em nossa voz em nosso gesto. Este é o Ensinamento para nós, humano em demasia. http://is.gd/dlNrfc

Mi - Cps, 24/09/10

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Felicidades!!!!!!

Parabéns minha irmã amada!
Aniversariar é experenciar mais e olhar a vida como uma dádiva de Deus.

Dia de especial renovação para a alma e espírito, porque Deus, na sua infinita misericórdia, te deu chance de recomeçar, de aprender, de ensinar de vivenciar de orar e agradecer mais.

Essa data tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa.

Beijos e beijos
Dia tão grandiosamente dourado em que você pode criar e recriar a vida; vestir-se com todas as cores; experimentar todos os sabores, porque Deus te ama e eu também.

Mi - Cps, 21/09/10

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Esperanças...

Esperança é a possibilidade positiva nos resultados relacionados com eventos e circunstâncias da vida. A Esperança requer perseverança. É crer ser possivel as impossibilidades. O sentido de crença da Esperança nos aproxima dos significados da .

Exemplo de Esperança: - Esperar que o outro mude e principalmente Esperar pela nossa própria mudança; Esperar que os sentimentos de amor, de respeito e de admiração sejam recíprocos. 

Jamais podemos esquecer que a Esperança é uma das três Virtudes do Cristianismo. Por meio dela, nós cristãos desejamos e esperamos  de Deus a Misericórdia e que Ele nos faça misericordiosos. Por isso temos Esperanças nas promessas do Cristo.

Para perseverar nesta Esperança acreditamos axiomaticamente que os princípios deixados por nossos pais sejam fulcrais.

*

Obs. Temos estado assim, o tempo todo, né? Então vamos fofocar...


...Não vou citar nome, mas vocês perceberam que existe avo "fresquinho" por ai?


Tô falando!!!




Momento de reflexão para todos nós ! >> http://is.gd/ffEPx

Mi - Cps, 17/09/10

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Assim a vida nos coloca

Exemplo fantástico que o Fábio nos deu, no poema de Drummond, onde José fica em situações desfeitas. A festa existia e acabou; os amigos presentes se foram. O poeta desconstrói o contexto do personagem e o coloca nu diante dos fatos: e agora José? Como você reage neste processo de desconstrução?

A vida constrói e inevitavelmente desconstrói. Também nos capacita a partir da desconstrução para uma nova etapa. A vida é inconstante, o jeito que somos hoje perante ela pode não servir para amanhã, ela nos posiciona de inúmeras formas. Vemos que nossa família, nossos amigos, nossos espaços e nós mesmos, não somos mais iguais. Estruturas modificam o tempo todo e temos que reconstruí-las.

O conhecimento lembra desconstrução. Tínhamos uma idéia construída sobre algo, ao falarmos com alguém, descobrimos fatos novos, que até então não percebíamos. Pronto! Quebramos este conhecimento e o renovamos. Assim que se dá o processo de desconstrução. Desabou o conhecimento antigo e fez-se um novo. Enquanto vivemos seremos desconstruídos e reconstruídos, processo cíclico que espetacularmente nos faz ir além.

A vida quer de nós uma resposta nova para a existência, mas a pergunta que ela nos faz é sempre a mesma: e agora? Agora as respostas são diferentes, são mais sensíveis, amadurecidas, evoluídas.

JOSÉ: http://is.gd/f9yNj

O poema mostra José no seu cotidiano angustiante. Sem espaço, sem alegria e sem felicidade. Está só na fria escuridão do abandono. Ama, mas é irônico, faz versos, mas é desconhecido, sem sobrenome. De onde veio, para onde vai? Quem sabe!? Sofre de carência afetiva, não pode apegar-se em qualquer vício. Para ele o dia não veio e nada vem mesmo de mentiras ou de ilusões. Não se realiza como pessoa. A esperança mofou. Seu terno o impossibilitado de agir. Tem chave, mas não há porta. Nem morrer pode, o mar onde quer morrer secou. Quer voltar para Minas que é seu ponto de equilíbrio, a Minas dos seus sonhos, de sua infância, mas essa Minas, não existe mais, modificou. Nem tem fé para se refugiar. José não encontra a si mesmo. Perdeu-se e sem qualquer direção ele prossegue: para onde, José?

José se construiu, foi desconstruído e não fez o exercício de reconstrução? E agora José?

Mi, Cps 14/09/10

domingo, 12 de setembro de 2010

Imortalidade x Eternidade

Imortalidade significa “sem morte” ou que nunca experimentaríamos a morte! A morte é um dos conceitos mais antigo e repudiado na história do pensamento humano. Conforme Sartre, ela rouba-nos quem amamos, interrompe nossos projetos e nos ameaça constantemente. Mas viver é caminhar para a morte e o desejo humano supremo é de derrotá-la. A imortalidade existe apenas na nossa imaginação. É isso o “elixir da eterna juventude”: uma vida sem velhice e sem a morte…
Eternidade não é sinônimo de Imortalidade! Significa ultrapassar a experiência da morte, ou seja, a morte não acaba com a vida e insere-a em novas coordenadas. Experimenta a morte como consumação definitiva.

Isto só faz sentido quando compreendemos a Vida Humana e a história como processo de Humanização. Pelo acontecimento da morte, a interioridade pessoal-espiritual que se constrói historicamente em relações de espaço-tempo, fica livre em que a morte marca o fim do Homem Exterior.

Segundo a mitologia de Tróia que se estende até hoje e podemos claramente ver que a eternidade é o que mais nos fascina.

“O homem é assombrado pela vastidão da eternidade, então perguntamos a nós mesmo: - Irão nossos atos ecoar através dos séculos? Estranhos ouvirão nossos nomes, muito depois de termos partido? Imaginarão quem fomos? O quanto lutamos bravamente? O quanto amamos intensamente?”

Aquiles, filho de Deleu. Aceita lutar por Agamenon, por quem nutre o maior desprezo, só para ser lembrado por toda a eternidade.

Talvez, todos queiramos ser lembrados e o importante não é ser eterno, mas como ser eterno: uma performance; uma participação engajada, quem sabe escrever? Pode ser um atalho!


MJ
Dance Off!- http://is.gd/uidfPA

Man in the Mirror - http://is.gd/lyak6k
We Are The World - http://is.gd/5OE9Lu
EP
Polk Salad Annie:
- 4min: http://is.gd/xsGpmU 
ou - 6,20min: http://is.gd/cWcTPo
Unchained Melody: http://is.gd/mtoAeV
In the guetto: http://is.gd/kgcsWI

A eternidade é a posse inteira, simultânea e perfeita de uma vida interminável.

Mi, 16/09/10

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Entre quatro paredes

O existencialismo do filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) era baseado na morte, algo inevitável que nos impede de concretizarmos nossos planos.

No drama Entre quatro paredes (1944), ele externaliza o desejo e o medo dos personagens. É ai que resgatam suas maldades e angústias que os atormentam. Eles se conhecem pós morte, estão no inferno (não o cristão).

Garcin,letrado, queria ser herói, mas, se acovardou e se apavora com a idéia de suas novas companheiras descubram e isso é impossível;

Inês, funcionária dos correios, homossexual é agressiva, admite suas culpas. Não se desculpa e reconhece o inferno. O ódio a alimenta; sádica, satisfaz com o sofrimento alheio.

Estelle quer conforto e consegue através de um bom casamento, para isso mata o filho que teve com o amante. Este entristece, se mata. Ela tenta redimir-se culpando ao destino. Deseja a paixão para fugir da realidade e usa seu corpo na maioria das vezes.

Cada um responde por um crime. Ficaram confinados eternamente numa sala fechada, sem espelhos, não há necessidade alimento, de dormir, por toda eternidade. Só se vêm através dos olhos do outro; olhos esses que nunca escolheriam para se conviver.

Vaidosa e egoísta, é patético o desespero de Estelle por um espelho. Inês arregala os olhos para que ela possa se enxergar: ela se vê, tão pequenina... Tudo isso os incomoda bastante, pois não conseguem enganar uns aos outros por muito tempo e, aos poucos vão se constrangendo cada vez mais. São colocados cada um, como carrasco do outro, buscando desnudá-los por trás dos olhos.

E acontece a prova de que o ser humano necessita da comunicação, mesmo sabendo que esta será seu inferno.

Inês quer Estelle, Ester quer Garcin, que a ignora por saber quem ela é. Inês joga Estelle contra ele, explicitando as faltas deploráveis de ambos; faltas essas que nenhum quer admitir. Numa convivência insuportável, Estelle, revoltada, tenta matar Inês, mas ela dá boas gargalhadas: já está morta. Garcin tenta, inutilmente, convencê-la de que não é um covarde. Não conseguindo, tenta se vingar amando Estelle diante de Inês.

A consciência de cada um se esbarra no muro da consciência do outro e passam a depender da aceitação dos companheiros, sentimento que mistura ternura e ódio. Está revelado o verdadeiro inferno: a consciência não pode furtar-se a enfrentar outra consciência que a denuncia, por isso: “o inferno são os outros”.

Entre quatro paredes é um questionamento da condição humana. É quando o outro deixa de ser importante e passa a ser negligente e repugnante. Mostra a linha tênue que existe entre o ato bom e o ato mau dos seres humanos. “Os Outros”, revelam de nós a nós mesmos.

Algumas vezes, mesmo sufocados pela indesejada presença do outro, tememos magoar, romper, ferir e, a contra-gosto, os suportamos. Uma vez que a incapacidade de compreender e aceitar as fraquezas humanas torna a convivência realmente um inferno, o angustiante existencialismo ateu sartriano não nos deixa saída. Sem o mínimo de boa-vontade, não há paraíso possível.

Mi, 08/09/10
Fonte: http://is.gd/f1yfI

domingo, 5 de setembro de 2010

O Banquete

Diálogo platônico escrito por volta de 380 a.C..

A série de discursos sobre a natureza e as qualidades do Amor (Éros).

Conforme alguns filósofos, talvez seja a resposta de Platão às acusações da Cidade contra a filosofia.


Simpósio, Disputa, Banquete ou Orgia?

Anfitrião: Agaton o poeta trágico ateniense

Convidados: Fedro, o jovem retórico; Pausânias, amante de Agaton; Aristodemo, amigo e discípulo de Sócrates; o médico Erixímaco; Aristófanes, o comediógrafo; Sócrates, o convidado mais importanteo e o político Alcibíades.


No dia anterior à festa foi um exagero o excesso de bebida, os convidados ainda estavam resquiciosos. Então, Pausânias sugeriu no lugar da bebida, um diálogo. Todos concordaram. Eriximaco quis elogios à Eros e louvores ao amor.

Sócrates chegou na hora e pediu que, antes de falarem sobre o bem que o amor e seus frutos causam, definissem o que é o amor (iniciou na filosofia por sua mestra Diotima, que lhe ensinou a genealogia do amor).

Fedro começa citando Hesíodo: Falou que o Amor pertence aos deuses mais antigos; é o maior bem, sem ele não há com produzir grandes e belas obras. Dirige a vida dos nobres; é responsável por algo que nem riquezas, honras estirpes podem inspirar tão bem: “A vergonha do que é feio e apreço ao que é belo”.

Fedro se refere ao aidós (do grego - pudor, vergonha, respeito), faz quem ama temer ser surpreendido numa atitude aviltante, humilhante, sentindo-se constrangido diante do amado: “todo homem que ama, se fosse descoberto a fazer um ato vergonhoso, ou a sofrê-lo de outrem sem se defender por covardia, visto pelo pai não se envergonharia tanto, nem pelos amigos nem por ninguém mais, como se fosse visto pelo bem amado”.

Para Fedro, o Amor dá ao homem virtudes e felicidade, nesta vida e depois dela, torna-os corajosos, heróis e inspira à moral. Sorte dos que amam e são correspondidos. Amar é ainda mais divino que ser amado.

Depois Pausânias disse sobre a existência de outros Eros. Divididos entre bem e mal, real e divino.

Ao limitar-se a unidade do Amor, subdivide-o e (não os exclui) hierarquiza-os imediatamente: Afrodite não é só uma, há: Urânia (celestial) e a Pandêmia (vulgar - pan = todos e demos = povos). Afrodite Pandêmia ama mais o corpo que a alma, inexoravelmente é vencida pelo tempo (Chronos): “Com efeito, ao mesmo tempo em que cessa o viço do corpo, que era o que ele amava 'alça ele o seu vôo' (de Homero), sem respeito a muitas palavras e promessas feitas. Ao contrário, o amante do caráter, que é bom, é constante por toda a vida, porque se fundiu com o que é constante”.

[Na Grécia, existiam duas representações de Afrodite. A Afrodite Pandêmia e a Afrodite Urânia, cada uma delas com características próprias. A Afrodite Pandêmia é a mais antiga, divindade importada do Oriente, altamente sensual. A Afrodite Urânia é mais etérea, regendo os relacionamentos afetivos, incluindo os platônicos].

Pausânias revela duas formas de Amor: - Afrodite Urânia = associada ao eterno, imortal; - Afrodite Pandêmia = transitório, mortal. Os dois amores são necessários, dando ênfase à Pandêmia desvirtue a pólis. E mesmo que esteja passível de cometer um engano, um erro de pessoa, quem ama verdadeiramente é digno de nobreza.

Para ele, existe o Eros vulgar e repudiável e outro sendo uma força educadora. O amor é sinônimo de liberdade para o homem. O amante faz coisas para o amado que um outro não faz, tal como se jogar no chão ou se deitar na porta da moradia do amado.

O amor é louvável, por indicar liberdade ao indivíduo, que age com uma certa graça, sem que ninguém censure o ato louvabilíssimo. Quem ama obtém perdão dos deuses, em caso de falso juramento. O amante está livre de parecer ridículo em suas atitudes.  Se em agredir os deuses é logo perdoado pela sua condição de amante. O amor aproxima o sujeito das virtudes.

Após, Erixímaco segue. Segundo ele, o amor influencia a alma e harmoniza o corpo. Ele concorda com Pausânias na duplicidade do Amor e universaliza, o amplia a todo cosmo:  “grande e admirável, e a tudo se estende ele, tanto na ordem das coisas humanas como entre as divinas”.

Como é um médico, faz uma analogia com sua arte, dizendo que a medicina suscita Amor e concórdia, promove harmonia, combinando opostos (o sadio e o mórbido) que se estende por todo universo: “deve-se conservar um e outro amor (...). De fato, até a constituição das estações do ano está repleta desses dois amores, e quando se tomam de um moderado amor um pelo outro os contrários, o quente e o frio, o seco e o úmido, e adquirem uma harmonia e uma mistura razoável, chegam trazendo bonança e saúde aos homens, aos outros animais e às plantas, e nenhuma ofensa fazem; quando porém é o Amor casado com a violência que se torna mais forte nas estações do ano, muitos estragos ele faz, e ofensas. Tanto as pestes, com efeito, costumam resultar de tais causas, como também muitas e várias doenças nos animais como nas plantas; geadas, granizos e inflamações resultam, com efeito, do excesso e da intemperança mútua de tais manifestações do Amor (...)”.

[Amor em desequilíbrio, o Amor pathós (afecção da Alma), Amor doentio (patologia hoje)].

Erixímaco transpassa o homem e atinge a natureza. Visão de médico naturalista, Eros aparece como um deus poderoso, que tudo anima e penetra, no ritmo periódico de pleno e de vazio. Ele vê na existência de Eros o bom e o ruim. O médico grego falou que deve-se consentir o prazer, mas não se corromper por ele. Deve harmonizar entre as forças físicas antagônicas e combinar tons altos e baixos formando sinfonia.

Aristófanes foi o próximo. Discursa diferente. Acusa a insensibilidade e impiedade dos homens para com o poder miraculoso de Eros, deus amigo e para conhecer tal poder, precisariam antes conhecer a história da natureza humana.

O poeta narrou o mito da unidade primitiva humana e posterior mutilação. Segundo ele, no início havia 3 gêneros de seres humanos, eram duplos de si mesmos. Gênero masculino masculino; feminino feminino e o masculino feminino chamado andrógino.

É então de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa de fazer um só de dois e de curar a natureza humana. Cada um de nós portanto uma téssera complementar de um homem, porque cortado com os linguados, de um só em dois; e procura cada um o seu próprio complemento”.

Assim, homens ou mulheres que foram separados do andrógino, procuram sua outra parte. Isto explica o amor heterossexual. E as que foram cortadas da mulher, ou o cortado do masculino unirão ao seu igual.

[Aqui Platão apresenta uma explicação para o amor homossexual feminino e masculino. Quando as metades se encontram, sentem as mais extraordinárias sensações, intimidade e amor, a ponto de não quererem mais se separar, sentem vontade de se "fundirem" novamente. Todos desejam encontrar a cara metade. Conforme Platão, o amor para Aristófanes é o desejo e a procura da parte separada por causa de injustiça contra os deuses].
Aristófanes é poeta e romantiza a definição de amor e amizade. Deixa evidente que não se trata de conexão corporal e sim essência e complementaridade. Termina seu discurso de forma belíssima, profetizando que o homem só terá uma vida feliz se tomado por Eros, responsável por realizar plenamente a finalidade do amor e de fazer com que cada ser encontre o seu verdadeiro amado, retornando à sua primeira natureza.

Agaton, o poeta anfitrião foi o ante-penúltimo a elogiar amor. Não só enalteceu os benefícios que Eros faz ao homem. Também cantou o próprio deus em essência e o descreveu como o grande poeta que ensinou os outros a sê-lo.

E desde que Eros pisou no Olimpo, o trono dos deuses passou de terrífico a belo. Foi ele quem ensinou à maioria dos imortais as suas artes.

Após todas essas virtudes atribuídas a Eros, o poeta se limitou a explicar o Amor e suas características.

Finalmente Sócrates discursa. O grande momento do banquete e talvez o mais esperado.  Inicia elogiando Agaton ter principiado por mostrar qual é a natureza e quais são as obras do Amor.

Para ele, ao contrário de Agatão, Eros não é o próprio belo, mas aspira-o, tem o desejo de possuir algo. Lembra que quem ama deseja possuir aquilo que ama.

A seguir, pergunta: “é de tal natureza o Amor que é Amor de algo ou de nada?” Agaton responde que o Amor é Amor de algo. (De qual “algo” será o Amor?).

Indaga Sócrates: “Será que o Amor, aquilo de que é amor, ele o deseja ou não?” e aprofunda ainda mais na questão: “E é quando tem isso mesmo que deseja e ama que ele então deseja e ama, ou quando não tem?” (quem deseja o Amor, deseja aquilo que tem carencia).

Disse Sócrates que, sendo o Amor, amor de algo, esse algo é desejado. Este objeto do amor só pode ser desejado quando falta, ninguém deseja o que não precisa.“O que deseja, deseja aquilo de que é carente, sem o que não deseja, se não for carente”.

[Na fala de Sócrates, Platão coloca seu apontamento crucial sobre o conceito de amor. Só se ama aquilo que não se tem e se alguém ama a si mesmo, ama o que não é. O objeto do amor é ausente, mas solicitado. É como a verdade que está sempre além: ao pensarmos em tê-la atingido, ela nos escapa entre os dedos].

Essa inquietação da procura, pela paixão ou pelo saber, faz do amor um filósofo. Sendo o Amor, amor daquilo que falta, não é belo nem bom, visto que o Amor é amor do belo e do bom. Não desejamos o que temos.

Aí, Platão ainda fala sobre a origem de Eros (mito narrado por Diotima a Sócrates). Eros teria a natureza da falta justamente por ser filho de Recurso e Pobreza. Conforme Platão em O Banquete, Eros deve ser pensado em termos relacionais, não em termos absolutos. Não se deve compreender o amor como absoluto, mas como relativo, pois é amor de alguma coisa. O amor estabelece relação entre quem ama e aquele que é amado, assim como: medeia sabedoria e ignorância.

Platão tira de Eros (Amor) a condição de deus, e transforma-o em, um intermediário entre os deuses e os mortais (o amor como ligação). Segundo texto de Platão e de alguns de seus companheiros, o amor é um dos maiores bens do homem (junto com o inteligência e a sabedoria); não é nem bom nem mal.

No diálogo, existe também uma explicação e a naturalização do amor bissexual e do amor homossexual. Para Platão, quando se ama tem que saber ser correspondido.
"Convidado pelo rei Dionísio, a passa um bom tempo em Siracusa, para ensinar filosofia. Época talvez que se tenha dado a reunião na casa do burguês Agaton. Por isso será que Platão não está entre os convidadaos?." 
Aristófanes insistirá no poder que o Amor possui e versará sobre sua natureza histórica. Com o seu famoso mito dos andróginos, legitimará a homo afetividade e a desenfreada busca pelo que denominamos “almas gêmeas”.

Os humanos eram unidos pelo umbigo e Zeus, temendo a presunção de tanta auto-suficiência, para enfraquecê-los, divide-os em dois e cada uma das partes passará a vida à procura de sua outra metade original, que pode ser: homem procurando homem, mulher procurando mulher ou homem procurando mulher ou v/v.

Para Aristófanes, o Amor é justamente essa busca constante e incansável por sua outra metade a fim de se restabelecer o original e primitivo “todo”. Não se trata de sexo, mas de “uma coisa” que a alma de um quer da alma do outro. Sobre essa “coisa” a alma não pode dizer, mas “advinha” o que quer e indica por enigmas.

Declama o ferreiro artesão, divino Hefestos, indagando aos amantes: “Que é que quereis, ó homens, ter um do outro? (...) Porventura é isso que desejais, ficardes no mesmo lugar o mais possível um para o outro, de modo que nem de noite nem de dia vos separeis um do outro? Pois se é isso que desejais, fundir-vos e forjar-vos numa mesma pessoa, de modo que de dois vos torneis um só e, enquanto viverdes, como uma só pessoa, possais viver ambos em comum, e depois que morrerdes, lá no Hades, em vez de dois ser um só, mortos os dois numa morte comum; mas vede se é isso o vosso amor, e se vos contentais se conseguirdes isso”.

Aristófanes pensa que talvez todos queiram fundir-se ao amado. E conclui que o desejo e procura da outra parte se dá o nome de Amor.

Agaton, retoma a idéia dos benefícios do Amor iniciado por Fedro. A essência, a natureza do amor traz esses benefício, todas as perfeições imagináveis são atribuídas ao Amor, dos deuses é o mais feliz porque é o mais belo; e mais belo por ser mais jovem (por isso foge da velhice)! Além de ser o melhor (por ser o mais justo), temperante, corajoso e sábio.

E sobre por onde anda o amor, Agaton diz que “(...) Nos costumes, nas almas de deuses e de homens ele fez sua morada, e ainda, não indistintamente em todas as almas, mas na que encontre com um costume rude ele se afasta, e na que o tenha delicado ele habita”. (Enfim, para Agaton o amor se apresenta como: tudo de bom!).

Sócrates “provoca” Agaton, sobre quão Belo é o Amor:Não está então admitindo que aquilo de que é carente e que não tem é o que ele ama?” (...) “Carece então de beleza o Amor, e não a tem?” (...) “E então? O que carece de beleza e de modo algum a possui, porventura dizes tu que é belo?”.

Agaton confessa não saber nada sobre o que diz Sócrates.

Sócrates faz uma reflexão do belo ao bom, conclui que o amor é carente de ambos. Traz para o discurso relatos de sua mestra, entendida nesse e em outros assuntos. Ao ser indagado por Diotima percebeu: o que não é belo, não é necessariamente feio; um indivíduo, não sábio, não precisa ser ignorante.

[O discurso de Sócrates aparece não como uma sabedoria dele, mas como uma verdade que ele desvendou na conversa com sua mestra Diotima, uma sacerdotiza da cidade de Mantinea].

Ela teria dito a Sócrates: “Não fiques, portanto, forçando o que não é belo a ser feio, nem o que não é bom a ser mau. Assim também o Amor, porque tu mesmo admites que não é bom nem belo, nem por isso vás imaginar que ele deve ser feio e mau, mas sim algo que está, dizia ela, entre esses dois extremos”.

Diotima provou para Sócrates que: o Amor não é deus, todos os deuses perfeitos já possuem o que é belo e bom, logo são felizes. A sacerdotisa diria então que o Amor é um “gênio intermediário” (os gregos denominavam “daimon”, cuja tradição medieval simbolizou por “angelus”, anjos), algo que está entre “um deus e um mortal”.

E detém o poder, diz ela:de interpretar e transmitir aos deuses o que vem dos homens, e aos homens o que vem dos deuses, de uns as súplicas e os sacrifícios, e de outros as ordens e as recompensas pelos sacrifícios; e como está no meio de ambos ele os completa, de modo que o todo fica ligado todo ele a si mesmo. (...) Um deus com um homem não se mistura, mas é através desse ser [Amor, que é um daimon] que se faz todo o convívio e diálogo dos deuses com os homens, tanto quando despertos como quando dormindo”.

[Sócrates perguntara a Diotima sobre a origem do Amor, ela relatara que: no nascimento de Afrodite, houve uma grande festa no Olimpo e que, entre os convidados, se encontrava Recurso (Póros), possuidor de toda riqueza, filho da deusa Métis (a sabedoria, inteligência prática, prudência): “Depois que acabaram de jantar, veio para esmolar do festim a Pobreza [Penia, uma jovem mendiga], e ficou pela porta. Ora, Recurso, embriagado, penetrou o jardim de Zeus e, pesado, adormeceu. Pobreza então, tramando (...) engendrar um filho de Recurso, deita-se ao seu lado e pronto concebe o Amor. O Amor, filho de um pai sábio e rico e de uma mãe não sábia e pobre, nasce sob o signo da beleza:  “Eis porque ficou companheiro e servo de Afrodite o Amor, gerado em seu natalício, ao mesmo tempo que por natureza amante do belo, porque também Afrodite é bela”. (...) “Primeiramente ele é sempre pobre, e longe está de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre convivendo com a precisão. Segundo o pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e energético, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio de recursos, a filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista (...) está no meio da sabedoria e da ignorância. (...) Nenhum deus filosofa ou deseja ser sábio – pois já é –, assim como se alguém mais é sábio, não filosofa. Nem também os ignorantes filosofam ou desejam ser sábios; pois é nisso mesmo que está o difícil da ignorância, no pensar (...). Não deseja, portanto quem não imagina ser deficiente naquilo que não pensa lhe ser preciso”].

A mestra reitera que uma das coisas mais belas é a sabedoria e o Amor é amor pelo belo, de modo que é forçoso o amor aspirar à sabedoria, como um filósofo. Sendo filósofo está entre a sabedoria e a ignorância. A ação (do Amor) é o que garante aos mortais alcançar a imortalidade que lhes é possível.

Diotima ressalta uma hierarquia sobre a concepção amorosa dizendo que há os que concebem na alma (belos pensamentos e virtudes) mais do que no corpo. Mas a mais importante, disse ela, e a mais bela forma de pensamento é a que trata da organização dos negócios da cidade e da família, e cujo nome é prudência e justiça.

O Banquete encerra com a chegada de Alcibíades. Que ao por fim as honrarias a Eros e inicia elogios a Sócrates, Alcibíades encarna Eros e declara seu grande amor por Sócrates.

Como pode um jovem de beleza exuberante declarar seu amor (philia) a um velho como Sócrates? É a valoração da filosofia e um novo valor: a beleza interior superior à beleza exterior perecível.

O segredo de Sócrates é o conhecimento do amor e só Alcibíades captou. Esse efeito de significação do amor decorre de que para amar é necessário que o sujeito reconheça o que falta em si, renuncie à posição de o objeto e passe a ser sujeito.

Alcebíades embriagado vê o Agalma (objeto precioso e inelutável) que está no interior de Sócrates. Sócrates porta um objeto desejado por Alcibíades. Contudo, Sócrates recusa o amor de Alcebíades na posição de objeto amado, quando diz não ter o que deseja Alcebíades e quem a tem é Agaton.

Onde Alcebíades diz ver o Agalma há um vazio; Sócrates é vazio, por isso ele não abre mão da posição de amante. Se Sócrates aceitasse a posição de amado estaria consumada a metáfora do amor, visto que em Alcebíades houve mudança de posição, de amado a amante.

Sócrates instaura a ignorância, o não-saber como vazio no centro do saber, aí onde Alcebíades ama o suposto saber de Sócrates. Sobre o Agalma, Sócrates responde com o seu vazio, com um "eu não tenho o objeto que você supõe". Sócrates indica a Alcebíades que a suposição deste é imaginária.

Aí onde Alcebíades pede um sinal do desejo de Sócrates, este se recusando à metáfora, indica que o desejo não tem sinal, que o desejo só pode se manifestar como falta, pois ele não tem objeto, não tem significante.

É certo que Sócrates sabe não-saber sobre o objeto, entretanto, tudo leva a crer que alguém é portador do Agalma, no caso Agaton. Sócrates diz que Alcebíades está identificado a ele Sócrates amando Agaton, portanto Alcebíades está identificado à imagem de Sócrates enquanto amante.

Sócrates aponta o engano de Alcebíades, ao mesmo tempo em que lhe indica a subordinação do seu desejo ao Outro.

Sobre o amor, entretanto existem perguntas, cujas respostas aparentemente nunca obteremos. Mas o que diram Agaton, Fedro, Pausânias, Aristodemo, Erixímaco, Aristófanes, Alcibíades e Sócrates, sobre o amor se o banquete fosse hoje, seria a mesma forma de amar?

O que é o Amor? http://is.gd/eWfGd ;
O dono da dor? http://is.gd/eWV1R

Mi – Cps, 05/09/10
Fontes: O Banquete http://is.gd/eTTOl / Conhecimento sem fronteiras http://is.gd/eW4uV /
Do amor que supera a eternidade e Sócrates http://is.gd/eW4Cj / Ágora psicanalítica http://is.gd/eWa0O / O bem platônico no Banquete http://is.gd/eWKFX

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Prometeu, Epimeteu e Pandora


Antes que o Céu e a Terra fossem criados, tudo era Um. Isso era chamado de Caos. Um grande Vazio sem forma onde potencialmente continha a semente de todas as coisas. A terra, a água e o ar eram um só. A terra não era sólida, nem a água líquida; o ar não era transparente.
Mas aí os Deuses e a Natureza começaram a interferir: a terra foi separada da água e, sendo mais pesada, ficou em baixo; a água tomou os lugares mais baixos da terra e a molhou; e o ar, quando se tornou mais puro, ficou no alto, formando o céu onde as estrelas começaram a brilhar. Foi dada aos peixes e a alguns outros seres a possessão do mar; aos pássaros, o ar; e aos outros seres a terra.

Porém, um animal mais nobre, onde um espírito pudesse ser alojado, tinha que ser feito, e aí surgiu a idéia de se criar o Homem. Esta tarefa coube a Prometeu ("aquele que prevê"), e seu irmão Epimeteu ("aquele que pensa depois" ou "o que reflete tardiamente"). Eram filhos de Jápeto, que por sua vez era filho de Urano (Céu) e de Geia (Terra) e descendiam da primeira geração dos gigantes destronados por Zeus, os Titãs. Eles haviam sido poupados da prisão por não terem lutado contra os Deuses na disputa para dividir os territórios.

Para executar sua tarefa, Prometeu sabia que nas entranhas da terra dormiam algumas sementes dos céus. Então, pegando em suas mãos um pouco de terra, molhou-a com a água de um rio e obteve argila; moldou-a, cuidadosamente, carinhosamente, até obter uma imagem que fosse semelhante à dos deuses. Mas ainda faltava dar vida àquele boneco.

Epimeteu havia criado todos os animais, dotando cada um deles com características como a coragem, a força, os dentes afiados, as garras, etc. Como o homem foi criado por último, o estoque das qualidades estava reduzido. Então Prometeu procurou por características boas e más nas almas dos animais e colocou-as, uma a uma, dentro do peito do homem. E o homem adquiriu vida.

No entanto, ainda faltava alguma coisa, algo mais forte, o Sopro Divino. Prometeu tinha uma amiga entre os deuses, Atena, deusa da Sabedoria. Esta admirou a obra do filho dos Titãs e insuflou naquela imagem semi-animada um espírito. E os primeiros seres humanos passaram a caminhar sobre a terra, povoando-a.

Mas o homem saíra das mãos de Prometeu, nu, vulnerável, indefeso e sem armas. Eles não sabiam fazer nada; não tinham o conhecimento de como amolar as pedras para cortar melhor a pele dos animais; não sabiam como pescar, pois não conheciam os meios para tal.

Condenados, desde o seu nascimento, os primeiros homens se nutriam de frutas e carne crua. Usavam folhagens para se protegerem do frio. Tinham como abrigo apenas grutas profundas e escuras. Não sabiam nem fazer uso da centelha divina (inspiração) com a qual haviam sido presenteados.

Podiam ver, mas não percebiam a beleza do azul do céu; podiam comer, mas não sentiam o doce sabor das frutas; podiam escutar, mas não sonhavam com o barulho das cascatas e o som divino do canto dos pássaros.

Com relação a esta condição humana, existe uma descrição das Eras que se seguiram.

A Era do Ouro onde o homem não precisava fazer nenhum esforço para sobreviver. Tudo permanecia intocado, não havia necessidade de fortificações, armas ou barcos. Era de inocência e felicidade onde a verdade prevalecia e não havia nenhum juiz para ameaçar ou punir.

Era da Prata onde Zeus encurtou a Primavera e assolou a Terra com o calor e frio criando as estações. As casas se tornaram necessárias, a terra deveria ser tratada para produzir frutos e a juventude eterna não existiria mais.

Era do Bronze os conflitos começaram.

Era dos Heróis. Nesta época Astréia Deusa da Inocência e da Pureza, a última a deixar a Terra e foi colocada entre as estrelas na Constelação de Virgem – a Virgem Temis (Justiça) era a mãe de Astréia. Ela é representada segurando uma balança onde ela pesa as reclamações dos lados oponentes.

Era do Ferro onde as discórdias pioraram. O crime, a ambição e a violência reinaram expulsando a modéstia, a verdade e a honra.

Enquanto isto, na abóbada celeste reinava Zeus e todos os outros deuses. Zeus havia destronado seu pai, Cronos (Tempo) pondo fim à antiga geração dos deuses da qual Prometeu fazia parte. Zeus então voltou sua atenção para a recém-criada humanidade e dela exigia honras e sacrifícios, oferecendo, em troca, sua proteção.

Desde que Zeus e seus irmãos começaram a disputar o poder com a geração dos Titãs, Prometeu, apesar de não ter participado desta guerra, era visto como inimigo a seus amigos mortais como uma ameaça constante.

Neste clima de disputas e desconfianças, mortais e imortais se encontraram em Mecone (Grécia) para decidir as obrigações e direitos dos seres humanos. Prometeu intercedeu como legítimo advogado de suas criaturas e pediu aos deuses que não cobrassem muito por sua proteção.

Neste ponto, Prometeu teve a idéia de por à prova o poder e a clarividência de Júpiter. Sacrificou um enorme e belo touro e dividiu-o em duas partes e disse aos deuses do Olimpo que escolhessem uma delas, a outra caberia aos humanos. Antes, porém, em um dos montes colocou apenas os ossos e cobriu-o cuidadosamente com o sebo do animal, fazendo-o parecer maior que o outro monte de carne, entranhas e gordura, coberto com a pele do touro.

E assim Zeus escolheu o monte maior e ao descobrir que fora enganado por Prometeu, vinga-se dele recusando aos homens o último dos dons para manterem-se vivos: o fogo. Simbolicamente, Deus privou o homem da luz na alma, da consciência.

Sentindo muita pena dos pobres mortais, Prometeu desceu à Terra para ensiná-los a ver as estrelas; a cantar e a escrever; mostrou como fazer para domesticar os animais mais fortes; demonstrou-lhes como fazer barcos e velas e como poderiam navegar; ensinou-os a enfrentar as variantes diárias da vida e a fazer ungüentos e remédios para suas feridas.

Deu-lhes o dom da Profecia, para o entendimento dos sonhos; mostrou-lhes o fundo da Terra e suas riquezas minerais: o cobre, a prata e o ouro e a fazer da vida algo mais confortável. E, por último, ele roubou uma centelha do fogo celeste e a trouxe à terra. Com o fogo Prometeu ensinou aos homens a arte de trabalhar os metais.

Esta seria uma forma de reanimar a inteligência do homem, dando-lhes consciência, e de proporcionar melhores condições de vida para poderem se defender com armas eficazes contra as feras e cultivar a terra com instrumentos adequados.

Logo que a primeira semente do fogo do Sol foi utilizada em fogueiras a humanidade passou a conhecer a felicidade de viver melhor, de comer um alimento menos selvagem, de aquecer-se e receber luz. Mas, em sua alegria imoderada, os homens julgaram-se iguais aos deuses, esquecendo seus deveres para com seus semelhantes.

Zeus sentiu-se irado ao ver que o novo brilho que emanava da Terra era o do fogo. Sem poder tirar o conhecimento de como obter o fogo dos homens, arquitetou um outro malefício. E assim, decidiu punir tanto o ladrão quanto os beneficiados. Zeus entrega Prometeu a Hefesto, seu filho, e a seus seguidores, Kratós e Bia (o Poder e a Violência).

Estes os levam para o deserto de Cítia e lá, prendem-no com correntes inquebráveis à uma parede de um penhasco na montanha caucasiana. E Prometeu preso à rocha, o último deus a deixar a humanidade. Sem poder dormir e incapaz de dobrar um joelho fatigados tinha seu fígado devorado diariamente por uma águia.

Mas, como ele era imortal, suas vísceras refaziam-se à noite sendo dilacerado novamente no dia seguinte. Sua tortura deveria durar para toda a eternidade, pois as decisões de Zeus eram irrevogáveis e ele havia profetizado que seu sofrimento só terminaria quando um homem puro e de bom coração morresse em seu lugar.

Depois de 30mil anos de sofrimento, Hércules passou por ali e viu o exato momento em que a ave divina destroçava o fígado de Prometeu. Não pensou duas vezes e lançou sobre ela uma flecha veloz e mortal. Depois o libertou das pesadas correntes. Os dois seguiram viagem juntos. Mas faltava cumprir com a exigência de Zeus.

Quíron, (um centauro), antes imortal, aceitou morrer por ele, pois ele havia sido envenenado por Hidra e provavelmente iria morrer de qualquer jeito. Mesmo assim, o senhor dos deuses, obrigou Prometeu a usar um anel com uma pedra encrustada. Era uma pedra retirada do Cáucaso, onde esteve preso. Zeus poderia, assim, vangloriar-se dizendo que seu inimigo continuava preso à montanha.

Para castigar o homem, Zeus ordenou a Hefesto (Vulcano), o Deus das Artes, que modelasse uma mulher semelhante às deusas imortais e que ela fosse muito dotada. A mulher ainda não havia sido criada. Poucas horas depois, Hefesto chegou com uma estátua de pedra que retratava uma belíssima e encantadora donzela. Ela era linda, e clara como a neve.

Atená (Minerva) lhe deu a vida com um sopro e ensinou-lhe a arte da tecelagem, os outros deuses dotaram-na de todos os encantos; Afrodite (Vênus) deu-lhe a beleza, o desejo indomável e os encantos que seriam fatais aos indefesos homens. Apolo confere-lhe a voz suave do canto e a música, as Graças embelezaram-na com lindíssimos colares de ouro e Hermes (Mercúrio), a persuasão.

Em outras palavras, Hermes deu-lhe graciosa fala enchendo-lhe o coração de artimanhas, imprudência, ardis, mentira e astúcia. Por tudo isso ela recebeu o nome de Pandora ("a que possui todos os dons"). E da forma mais perfeita e eficaz fez-se o malefício.

Zeus enviou Pandora como presente a Epimeteu cujo nome significa ("aquele que pensa depois" ou "o que reflete tardiamente"). Epimeteu havia sido avisado por Prometeu para não aceitar nenhum presente dos deuses, mas, encantado com Pandora, desconsidera as recomendações do irmão. Pandora chega trazendo em suas mãos um grande vaso do Olimpo (pithos = jarro) fechado presente de casamento ao marido.

Pandora abre-o diante dele e de dentro, como nuvens negras escapam todas as maldições e pragas que assolam todo o planeta. Desgraças que até hoje atormentam a humanidade. Pandora ainda tenta fechar a ânfora divina, mas era tarde demais: ela estava vazia, com a exceção da "esperança", que permaneceu presa junto à borda da caixa.

A única forma do homem para não sucumbir às dores e aos sofrimentos da vida. Assim, essa narração mítica explica a origem do males, trazidos com a perspicácia e astúcia “daquela que possui todos os dons”.

Pandora por não ter nascido como uma deusa é conhecida como uma semideusa. Dizem que foi por ambição que ela abriu a caixa. Ela queria se tornar uma deusa do Olimpo e esposa de Zeus. Por isso, Zeus para castiga-la tirou-lhe a vida.

Mas, Hades com interesse nas ambições de Pandora, procurou as parcas (dominadoras do tempo) e lhes pediu para que voltassem o tempo. Sem permissão de Zeus elas nada puderam fazer. Hades convenceu o irmão a ressuscitar Pandora. Devido aos argumentos do irmão, Zeus a ressuscitou dando-lhe a divindade que ela sempre desejara.

Foi assim que Pandora tornou-se a deusa da ressurreição. Para um espírito ressuscitar Pandora entrega-lhe uma tarefa, se o espírito cumprir a devida tarefa, ele é ressuscitado. Pandora com ódio de Zeus por ele ter a tornado uma deusa sem importância, entrega aos espíritos somente tarefas impossíveis. Assim nenhum espírito até hoje conseguiu e nem conseguirá ressuscitar.

Deste mito ficou a expressão caixa de Pandora, que se usa em sentido figurado quando se quer dizer que alguma coisa, sob uma aparente inocência ou beleza, é na verdade uma fonte de calamidades. Abrir a Caixa de Pandora significa que uma ação pequena e bem-intencionada pode liberar uma avalanche de repercussões negativas.

Há ainda um detalhe intrigante que poderíamos levantar do porque a esperança estava guardada na caixa entre todos os males. Dependendo da perspectiva em que olharmos os pares de opostos, a esperança pode também ter uma conotação negativa por ela pode minar as nossas ações nos fazendo aceitar coisas que deveríamos confrontar.

A linguagem mitológica com todos os seus paradoxos vem de uma necessidade do homem de se conhecer mais. Para espantar o medo e a insegurança e explicar melhor os fenômenos naturais. Tudo que se apresentava aos olhos dos homens era entendido como personalidades divinas. Assim o sol, a terra, a noite, os rios, as árvores eram deuses. Ménard nos fala dessas alegorias da linguagem onde cada rio era um deus e cada regato uma ninfa.. “Se num trecho eles corriam nas mesma direção era porque eles se amavam.” “As catástrofes, os acidentes da vida se revestiam do mesmo aspecto na narração.

A história de Hilas, um jovem arrebatado pelas ninfas, nos mostra claramente o que devemos entender pela linguagem mitológica dos antigos. Nos tempos atuais, quando um jornal nos descreve a morte de um rapaz que se afogou, diria: Deplorável acidente acaba de afligir a nossa comunidade. Um jovem indo de manhã bem cedo banhar-se, morreu tragicamente afogado... Etc. Os gregos diriam: Era tão belo que as ninfas, apaixonadas, o raptaram e levaram para a profundeza das águas.”

Assim na narração mitológica, os significados são muito ampliados e uma redução seria cruel, pois isto destruiria toda e qualquer aceitação e compreensão de um mito. Todos sabemos que um “bom leitor” é aquele que mantém a sua mente aberta para entrar na narrativa sem qualquer preconceito e racionalidade, para não destruir a realidade que o escritor está tentando criar. Então vejamos: > Quando Júpiter se casa com Métis (Reflexão) ele a engole e dá a luz à uma filha Minerva ( A Sabedoria Divina) que lhe sai do cérebro. Se fizermos uso de uma redução, esta é uma imagem terrível, grotesca. > Agora, olhe sob essa outra perspectiva; o deus nutre-se da Reflexão para gerar a Sabedoria. Mnemosina (A Memória) desposa Zeus e deles nascem as Musas (A Inspiração). O sopro divino em união com a Memória faz nascer a Inspiração.

Se a verdade do mito segue a alguma lógica, esta é a do Inconsciente. É mais uma intuição compreensiva da realidade da qual não se necessita provas para ser aceita. Pois ela, em si, nos remete à realidade interna nos dando uma vaga noção de significado. Como nos sonhos, quando percebemos que existe algo de importante ali.

E isso também era tudo que Jung pedia ao tratarmos com esta estranha realidade do inconsciente. Manter as nossas mentes abertas para que possamos captar um mínimo dessa linguagem tão peculiar. O mito não é uma lenda. O mito não é uma mentira. Ele nos conta de nossa realidade interna, portanto ele é verdadeiro para quem o vive.

A narração de determinada história mítica é uma primeira incursão do homem em sua busca de significado sobre o qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel. Mas normalmente quando se fala de mito ou que alguma coisa é um mito, é mais no sentido desta coisa não ter nenhum compromisso com a realidade.

Como as lendas que são estórias sobrenaturais, como a mula sem cabeça e o saci pererê. Os mitos ou a criação destes estão presentes em todas as culturas, em todos os tempos desde o início da humanidade como um mecanismo de sobrevivência do homem em sua tentativa para explicar o mundo através de sua realidade interna.

Sua narrativa é um relato projetivo de um material inconsciente onde a linguagem simbólica é naturalmente criada num processo completamente isento de intenção que funciona como uma tentativa para elucidar os segredos.

Como sabemos a projeção não é um método intencional. Ela acontece, ela nunca é produzida. E na ocorrência dessas projeções, observamos todo um empenho que se resume na busca de significado, no encontro com a sombra e no restabelecimento do contato com o feminino.

Nas narrações das “qualidades divinas” de uma Deusa há um movimento de trazer para a consciência algum conteúdo inconsciente: Deméter (a eterna mãe); Koré (a eterna jovem); Artémis (a eterna guerreira) ou Afrodite (a eterna amante).

Estes traços do feminino atribuídos a estas Deusas simplesmente nos mostram o desconhecimento e o fascínio que eles causam ao homem desde a sua origem. Desde os mais remotos tempos, o mito grego representa o feminino como um reflexo importante de diversos aspectos da realidade e evolução que vão além dos limites do papel que a mulher tinha na sociedade grega. Podemos ver isso claramente nos relatos míticos, em trechos das narrativas épicas, das tragédias, como em obras de arte.

A Deusa Mãe representava mais especificamente a terra fecunda na qual o homem semeava e de onde retirava tudo que necessitava. Com algumas alterações na representação, a figura feminina ainda ocupava o lugar de destaque e recebia todas as honras. E como a Senhora da fertilidade e da fecundidade ela ainda reinava.

>>Com o correr dos milênios, a imagem da Deusa ganhou novos atributos, e foi associada a diversos animais e a outras funções. Com a expansão das tribos guerreiras do continente, as culturas matriarcais foram conquistadas, e um Deus Macho e guerreiro dominou o panteão.

A Deusa, então, assumiu o papel de mãe, esposa ou filha dele. As cidades se tornaram um espaço dos homens e dos Deuses machos; já o interior da casa, o campo, as matas. Isto é, as áreas limítrofes entre o civilizado e o selvagem, eram dominados pela Deusa Mãe em suas múltiplas facetas: Afrodite, Psique, Deméter, Perséfone, Ártemis, entre outras. A cada uma delas coube uma característica, uma pequena parcela do domínio da antiga Deusa Mãe.

No mito de Prometeu e de Pandora, a mulher aparece como um "presente" dado aos homens. Semelhante às deusas ela foi moldada em suas feições recebendo ainda todos os dons divinos. E foi Hermes quem lhe pôs no coração a perfídia e os discursos enganosos, além da curiosidade.

Desde então, a mulher é considerada a origem de todos os tormentos do homem. Tanto na tradição Grega quanto na Judaico-Cristã há uma tentativa de transgressão dos limites humanos e é a entidade feminina quem impulsiona o homem para tal ação.
>>Na narrativa dos Hebreus a tomada de consciência era oferecida ao homem por Eva. No mito Grego, houve primeiro uma simulação frustada pela brincadeira de Prometeu ao tentar testar o poder e a clarividência dos Deuses.

Depois o próprio Prometeu traz o fogo como presente, mas os homens embevecido com a nova condição se julgam iguais aos deuses e provocam uma situação de serem punidos novamente.
>>Aí chega Pandora que ao abrir a caixa derrama sobre a terra todas as desgraças. E a conseqüência é a perda do paraíso. Mas também se não fossemos expulsos, não cresceríamos.

Contemporaneando
Ainda hoje, a visão que se tem da mulher costuma ser permeada da influência desses dois mitos. Há quem a veja como uma bênção de Deus e daria tudo para ter a sua companhia. Há, por outro lado, quem pense diferente.

Lembremo-nos que estamos falando de uma realidade interna expressa nos mitos. Esta linguagem simbólica usada projetivamente se resume na busca do homem pelos segredos de seu próprio inconsciente; no encontro com a sombra e no restabelecimento do contato com o feminino.

E neste clima de tensões, paradoxos e incertezas confrontamos a nós mesmos na busca pelo equilíbrio. Na procura de significado onde esta anima tão bela e cheia de perfídia, nos faz crescer.

Uma aproximação deste mito pode ser feita com a Queda de Adão e Eva, relatada no livro do Gênesis. Em ambos os mitos é a mulher, previamente avisada (por Deus, na Bíblia, ou, aqui, por Prometeu e por Zeus), que comete um erro irremediável (comendo o fruto proibido, na Bíblia, ou, aqui, abrindo a caixa, ou jarra, de Pandora), condenando assim a humanidade a uma vida repleta de males e sofrimentos. Todavia, a versão bíblica pode ser interpretada como mais indulgente com a mulher, que é levada ao erro pela serpente, mas que divide a culpa com o homem.