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sábado, 14 de janeiro de 2012

O Bêbado e “A” equilibrist”a”

Como sabemos, durante a Ditadura era comum o uso de metáforas para driblar os militares que reprimiam qualquer pessoa que se opusesse contra o arbitrário regime. Em 1979 da "arma" de João Bosco e Aldir Blanc saiu um samba: O bêbado e a equilibrista, que na interpretação de Elis entendemos como "disparavam" mensagens subliminares.

O Bêbado = artistas ou não, que enfrentavam a ditadura desejosos por liberdade.
e a Equilibrista = esperança em democracia - mas, em eventos como: eleiçoes, passeatas e etc, os militares sabotavam duramente.
Caía a tarde feito um viaduto = Nos anos 70 em Belo Horizonte, o viaduto da Gameleira, obra do governo desabou sobre carros e ônibus, muita gente morreu. Nada foi noticiado nem as pessoas foram ressarcidas ou indenizadas.
E um bêbado trajando luto, me lembrou Carlitos = militantes de esquerda desaparecidos ou assassinados sob tortura.
A lua = políticos civis a favor do regime, a fim de obter ganhos pessoais. Se um general declarasse que a lua era preta eles defendiam tal tese como verdade absoluta. Eram chamados de luas-pretas.
tal qual a dona do bordel = negócios imorais feitos nas Câmara e no Senado eram comparados a bordéis, mas se alguem atrevesse tocar no assunto, no mínimo seria processado por calúnia, injúria, difamação e muitas outras coisas.
Pedia a cada estrela fria = estrelas eram generais, donos do poder, que não apareciam, mas manipulavam nos bastidores. Contentavam com poucos privilégios, ninharias de cargos de direção em estatais ou o poder de nomear alguns para empregos públicos.
um brilho de aluguel = ganhos pessoais ou eleitorais obtidos pelos civis marionetes. Alguns destes civis cresceram tanto que altrapassaram em poder os seus "criadores" fardados.
E nuvens =  os torturadores eram intangiveis assim como as núvens.
lá no mata-borrão = a temível polícia política da época era o mata-borrão destinada a sugar erros.Os militares criaram o DOI-CODI. DOI (Destacamento de Operações de Informações)  responsável pela inteligência e repressão do governo subordinados ao CODI (Centro de Operações de Defesa Interna), local de assassinatos e torturas de opositores.
do céu = aos cidadão comum, as prisões eram distante, por isso era comparada ao céu.
Chupavam manchas = os rebeldes eram as manchas na escrita, para isso mata-borrão.
torturadas = tortura camuflada em militantes de esquerda.
que sufoco, louco = o regime jamais admitiu torturar pessoas, nunca houve punições nos casos, que apesar da censura a imprensa conseguia divulgar.
O bêbado com chapéu-coco fazia irreverências mil = artistas sempre achavam um jeito de falar, conforme a música em questão.
Pra noite do Brasil, meu Brasil... = a volta da liberdade política era o amanhecer e a ditadura noite.
Que sonha com a volta do irmão do Henfil = Alusão à Campanha pela Anistia aos presos e exilados políticos. Henfil, apelido de Henrique Filho, cartunista político perseguido pelo regime. Herbert José de Sousa era seu irmão Betinho, sociólogo e ativista dos direitos humanos brasileiro que foi contra a ditadura, logo exilado (Anistiado em 79, voltou ao Brasil).
Com tanta gente que partiu num rabo-de-foguete = os exilados.
Chora a nossa pátria mãe gentil. Choram Marias e Clarisses no solo do Brasil = Maria, esposa de Manuel Fiel Filho morto sob tortura nos porões do DOI-CODI/SP em janeiro de 76. Clarice esposa de Wladimir Herzog igualmente morto em outubro de 75.
Mas sei, que uma dor assim pungente, não há de ser inutilmente = a luta não seria insignificante.
A esperança dança, na corda bamba de sombrinha. E em cada passo dessa linha pode se machucar = ficavam impotentes perdiam algumas estratégias e muitos companheiros, os tidos como rebeldes sofriam, mas não desistiam.
Azar , a esperança equilibrista. Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar. = era a missão dos bêbados, jamais deixar de lutar, cada um com seu tipo de "arma", onde quer que estivessem e de maneiras diversas. Como diz a letra, não podiam parar...

Mi - Cps, 14/01/12

Fonte: http://www.contrabaixobr.com/t13563-o-bebado-e-a-equilibrista-significado-da-letra