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terça-feira, 5 de outubro de 2010

“A condição humana”

Livro de difícil compreensão. Quais foram as intenções ao escrevê-lo?

Relato detalhado da evolução dos contextos predominantes da revelação da essência do homem. Partindo da Grécia Antiga até a modernidade da questão proletária, é possível percebe-se a degradação e a banalização que os conceitos sofreram no decorrer do tempo e as conseqüências para o homem moderno, cada vez mais alienado e apolítico.

A condição do "Homem",que tem o poder de fazer com que se integre à esfera pública, de se revelar quem é e inicie novos processos, ilimitados e potencialmente eternos. O Homem enquanto age deixa de ser escravo das necessidades, deixa para trás o labor e o trabalho, para finalmente ser livre. Agindo o Homem desvincula-se do reino doméstico, o oikos e entra na polis, no espaço político. A própria ação é a liberdade, e por conseqüência só se é livre enquanto se está em espaço público. Com a crescente apolitização dos homens têm-se reduzido o espaço público, reduzida a ação, correndo-se o risco de um caminhar À escravidão maior, fazendo com que o animal laborans finalmente predomine por completo sobre o zoon politikon.
Vídeo de 8’ http://www.youtube.com/watch?v=MI8N2hTqgcM

Hannah Arendt (Hanôver, 14/10/1906 — Nova Iorque, 04/12/1975), teórica política alemã, muitas vezes descrita como filósofa. Foi para os Estados Unidos durante a ascensão do nazismo na Alemanha e tem como sua magnum opus o livro "Origens do Totalitarismo".

De família judia, fez teologia com Martin Heidegger e relacionando-se afetiva, intelectualmente com ele. Estudou filosofia em Königsberg, cidade natal de Kant.Em Heidelberg, fez tese de doutoramento sobre a experiência do amor na obra de Santo Agostinho, sob a orientação do filósofo existencialista Karl Jaspers.

Uma em 1929. Em 1933 na tomada de Hitler, por ser judia é proibida de escrever a segunda dissertação para o acesso ao ensino nas universidades alemãs. Envolvida no sionismo colidiu com o anti-semitismo do Terceiro Reich, foi presa. Em Paris, trabalhou 06 anos com crianças judias expatriadas e tornou-se amiga do crítico literário e filósofo marxista Walter Benjamin. Presa pela segunda vez na França com o marido "marxista crítico" Heinrich Blutcher. Partiu para os EUA, com a ajuda do jornalista americano Varian Fry.
Seus temas filosóficos abarcam política, autoridade, totalitarismo, educação, condição laboral, violência e a condição de mulher.

O primeiro livro "As origens do totalitarismo" de 1951 a consolida uma das figuras maiores do pensamento político ocidental. Assemelha de forma polémica ao nazismo e ao comunismo, na ideologias totalitárias, isto é, uma explicação compreensiva da sociedade e da vida individual mostra que a via totalitária depende da banalização do terror, da manipulação das massas, do acriticismo face à mensagem do poder. Hitler e Stalin seriam duas faces da mesma moeda alcançam o poder explorando a solidão organizada das massas. Em 1958 publica "A condição humana" que enfatiza a importância da política como ação e como processo, dirigida à conquista da liberdade. Publica em 1963 "Sobre a Revolução", talvez o seu maior tributo para o pensamento liberal contemporâneo.

Examina a Revolução Francesa e Americana, mostra as partes em comum e diferente. Defende que a preservação da liberdade só é possível se as instituições pós-revolucionárias interiorizarem e mantiverem vivas as idéias revolucionárias. Lembra os concidadãos americanos (já de nacionalidade americana) que se distanciassem dos ideais que tinham inspirado a revolução americana perderiam o seu sentido de pertencer e a identidade.

Ainda, em 1963 por cobrir o julgamento do exterminador dos judeus e arquiteto da Solução Final para a The New Yorker escreveu "Eichmann em Jerusalém". Nesse livro revelou que o grande exterminador dos judeus não era um demônio e um poço de maldade, como o criam os ativistas judeus, mas alguëm terrível e horrivelmente normal, burocrata que se limita a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de separar o bem do mal, ou contrição (arrependimento). Isto valeu crítica virulenta das organizações judaicas que a considerou falsa e renunciaram (abjuraram) a insinuação da cumplicidade dos próprios judeus na prática dos crimes de extermínio. Arendt apontou, apenas, para a complexidade da natureza humana, para uma certa "Banalidade do Mal" que surge quando se condescede com o sofrimento, a tortura e a própria prática do mal. Daí conclui que é fundamental manter uma permanente vigilância para garantir a defesa e preservação da liberdade.

Volta à Alemanha envolve-se, na reabilitação do filósofo alemão Martin Heidegger, afastado do ensino, depois da libertação da Alemanha, dadas as suas simpatias nazis. Novamente é criticada pelas associações judaicas americanas. Do relacionamento secreto entre ambos seria publicado um livro marcante, "Lettres et autres documents", 1925-1975, Hannah Arendt, Martin Heidegger, com edição alemã e tradução francesa da responsabilidade das Editions Gallimard. Hannah Arendt faleceu em 1975, e está sepultada em Bard College, Annandale-on-Hudson, Nova Iorque.

Arendt alerta em “A condição humana”: que condição humana é uma coisa e natureza humana é outra. Condição humana é a forma de vida que o homem se impõe para sobreviver. Por isso, somos condicionados por duas maneiras:
1 - Condições que suprem a existência do homem e variam de acordo com o lugar e o momento histórico (a cultura, amigos, família; são elementos externos do condicionamento) do qual é parte;
2 - Sendo assim (os próprios atos, aquilo que pensam, sentem, em suma os aspectos internos do condicionamento) homens são condicionados, até mesmo aqueles que condicionam o comportamento do outro tornam condicionados pelo próprio movimento de condicionar.

Organiza, sistematiza, a condição humana em três aspectos:
1) O “labor” é processo biológico necessário para a sobrevivência do indivíduo e da espécie humana.
2) O “trabalho”, quando transformam coisas naturais em artificias, ex: retiramos da árvore madeira para construir casas, armários, camas, objetos e etc.. Para ela, o trabalho não é intrínseco, constitutivo, da espécie humana, em outras palavras, o trabalho não é a essência do homem. O homem impôs o trabalho à sua própria espécie, como resultado de um processo cultural. O trabalho não é ontológico como Marx imaginava.
3) Por último a “ação”, necessidade do homem viver entre seus semelhantes, cuja natureza é eminentemente sociável. Ao nascer precisa de cuidados, de aprender e apreender, para sobreviver. Qualquer recém nascido abandonado só morrerá em questão de horas. A mesma coisa não acontece com animais que ao nascer já conseguem por conta própria e sem ajuda, sobreviver. A qualidade da ação supõe seu caráter social, sua pluralidade.

Estes três itens estão são conceito de “Vita Activa” (ocupação, inquietude, desassossego). Conforme os gregos o homem, só é homem quando (pensa) se afasta da “vida ativa” e se aproxima da vida reflexiva, contemplativa. Escravos eram considerados humanos, porém não homens, por que passavam a maior parte do tempo em tarefas que visam somente à sobrevivência de si e de outros. Portanto, dentro dessa lógica só é homem aquele que tem tempo para pensar, refletir, contemplar. Nietzsche em “Humano, desmasiado humano” dizia que: quem não tem, pelo menos, ¾ do dia para si é um escravo.

Sócrates Também falou que: se for apenas para comer, dormir, fazer sexo, que o homem existe, então, ele não é homem, é um animal. Escravo era visto assim: animal necessário para formar “homens”.

Na era moderna a escravidão barateia a mão-de-obra e obtem-se maior lucro. Na Grécia antiga escravo proporcionava, principalmente tempo livre que tanto necessitavam os filósofos. Pois a dignidade humana só é conquistada através da vida contemplativa, reflexiva sem compromisso com fins pragmáticos, destinada aos filósofos.

Vem o cristianismo e diz que todo indivíduo deve viver, uma vida contemplativa permitindo ao homem a oração.

Três forma dicotômicas de trabalho:
- improdutivo e produtivo;
- qualificado e não qualificado;
- intelectual e manual.

Segundo Arendt o conceito de trabalho produtivo, aquele que produz objetos, saiu ou eclodiu das mãos dos fisiocratas e Marx, só escolheu o termo trabalho que produz, que gera, que cria, porque estava em moda na época (nada mais do que enfraquecer o pensamento de Karl Marx em: trabalho é trabalho produtivo).

Nomearam o trabalho industrial de trabalho intelectual e para o trabalho que não estava ligado a industrial chamaram de trabalho manual. Mas, ambos precisam das mãos, quando colocados em prática. O intelectual precisa das mãos para escrever o que se planejou, logo trabalho intelectual é manuseável. Assim o trabalho intelectual é integrado ao “trabalho” da revolução industrial. A inda hoje, tudo que se faça tem que ser transformado em mercadoria, a ordem é valor de troca.

O objetivo no conceito “força de trabalho” compreende que todos tem a mesma força de trabalho e os fisicamente fracos, devem se adequar. Assim, que Marx forma o conceito de “valor de troca”. E assim exigem os proprietários dos meios de produção.

A força de trabalho que o homem possui só acaba com a morte, diferente do produto, que acaba quando é produzido. A força de trabalho é aquilo que Arendt entende por “labor”. “O labor não deixa atrás de si vestígio permanente”. Ex: do conceito de labor. Qual é a diferença entre um pão e uma mesa? A mesa pode durar anos e o pão dura, como muito, dois dias. O trabalho é força gasta para produzir a mesa. O labor é a força dispendida para produzir o pão. Mesa: objeto material produzido para o uso cotidiano e ocupa lugar no espaço. Pão: elemento material produzido para à sobrevivência de seres vivos e não ocupa lugar no espaço, visto que durante a digestão o pão é transformado em energia do corpo.

O que os bens de consumo são para a vida humana, os objetos de uso são para o mundo do homem”.(Arendt).

Bem de consumo = pão (permite a vida) / objeto de uso = mesa (necessário aos relacionamentos humanos). Então o homem fica dependentemente condicionado do que produz. Logo, o nome do livro: “A condição humana”. Condições para que o homem possa viver em sociedade, em coletividade.

Transformar o abstrato em concreto, o impalpável no papável é uma necessidade humana, conceito, ocidental que advem do capitalismo. Portanto, índios trabalham ou, apenas realizam atividades? A afirmação: os índios não trabalham, não quer dizer que eles sejam preguiçosos, quer dizer que eles não produzem valor de troca, logo, não realizam trabalho. Lugar onde Marx é mais mal interpretado.

Ex: homem sozinho numa ilha, para sair dela, deverá construir um barco, irá trabalhar. Antes, ele já viu um barco. Ao ver um barco, ele forma o conceito de barco. Então, cria a imagem na mente, para construí-lo. Cuja construção dependente do conceito barco. O imaginar e depois construir é próprio do humano. É nesse sentido que Marx diz que o homem é o único animal que trabalha. O homem imagina e depois faz. Se acrescentar o valor de troca, dá-se o trabalho capitalista. O trabalhador da fábrica sabe de antemão qual objeto irá produzir, sabe para que será usado. Todo objeto antes de ser construído tem sua finalidade, sua utilidade.

Nesse aspecto entre o meio(recurso usado para obter um fim) e o fim, temos a distinção entre objeto e instrumento (ou ferramenta usada para produzir o objeto). Uma vez acabada a produção, este serve como meio de... A princípio temos este algo como fim, e num segundo momento temos este algo como meio. Ele é um fim em relação a ferramenta, e depois, é um meio em relação ao homem. Se em relação a ferramenta temos um objeto, em relação ao homem temos um instrumento. É aí que existe um processo circular entre meio e fim, instrumento e objeto; em que todo fim se torna meio e todo meio se torna fim: “Num mundo estritamente utilitário, todos os fins tendem a ser de curta duração e a transformar-se em meios para outros fins.”(Arendt)

Todo instrumento é produzido para atender ao tipo de objeto desejado. O que realmente importa ao empregador é o objeto final acabado, o instrumento é apenas o meio. Os meios de produção são instrumentos usados para gerar mais-valia. Usados pelo assalariado. Quando o assalariado não percebe o uso que ele faz do instrumento, -seu trabalho-, gera mais - valia, então ele é um alienado.

O labor é trabalho gasto para produção de alimentos. Portanto, mantem a saúde do indivíduo e ele poderá trabalhar (o labor é pré-requisito do trabalho). Conforme a autora, não é possível existir trabalho sem labor. Ao passo que o labor produz a matéria para incorporá-la ao organismo, o trabalho a produz para que esta seja usada na produção de outros objetos e na materialização do abstrato ou colocar no papel uma idéia). Uma outra distinção entre trabalho e labor consiste em que, enquanto o labor exige o consumo rápido ou imediato, o trabalho não. A lógica do trabalho é a durabilidade dos objetos. Sua durabilidade permite o acúmulo de estoque dos objetos.

Mi - Base: GC - 05/10/10
http://www.mundodosfilosofos.com.br/a-condicao-humana-hannah-arendtt.htm