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sexta-feira, 18 de março de 2011

Minhas crianças!

Chalita, sempre faz brilhantes reflexões sobre violência. Então aproveito para falar sobre pais que agridem e matam a formação de seus filhos. Um convite a compreender o que não se compreende. Filhos que mais parecem hoje brinquedos e quando pais se cansam ou se sentem impedidos de viverem suas vidas guardam-nos num canto alheio a qualquer hora ou qualquer coisa assim.
Pais verdadeiros sabem quando o filho vai sentir frio, fome, sono e insegurança. Respeitam seus horários, alimentação, higiene, deveres escolar e ainda querem que filhos tenham o melhor dentro de suas possibilidades. Por incrível que possa parecer, não é o que tenho presenciado e o que vejo de comum são pais delegando responsabilidade ao outro. Beijinhos e abraços são importantes, mas não são determinantes na educação infantil. Pessoas infelizes revoltadas que não se consegue entender o porquê de filhos. Jogos de projeções e de expectativas estão socializados? Dai a assertiva sartreana de que "o inferno são os outros". O outro se transforma "no meu inferno" quando eu projeto nele a responsabilidade para minha felicidade. Revoltante ver o descaso com os princípios, que se respeitados fariam toda a diferença na humanidade e pais tendem a ignorá-los. Pais violentam demasiadamente o emocional dos filhos quando se agridem fisicamente, verbalmente em suas presenças. É a própria existência cotidiana empobrecida através da falta de educação e de sentimento.
Estou indignada por saber que isso tudo está tão próximo de mim e não consigo mudar nem uma vírgula para estancar este processo. Tento participar efetiva e afetivamente sem sucesso. Meu Deus! Como o mundo se desviou!

Abaixo está o artigo do Chalita na íntegra.


Uma cidade educada


A EDUCAÇÃO ESTÁ NA BASE DOS COMPORTAMENTOS COTIDIANOS E É NO DIA A DIA QUE SE APLICA A TEORIA DA ÉTICA E DO RESPEITO


16 de Março de 2011 às 17:03


Gabriel Chalita


Invariavelmente, discute-se educação sob o foco da relação de ensino–aprendizagem em salas de aula. Teorias pedagógicas tentam acompanhar as mudanças tecnológicas e comportamentais e as habilidades que precisam ser desenvolvidas. A educação, entretanto, transcende a sala de aula. O desafio é a construção de uma cidade educada.

Não é novidade a assertiva de que a educação começa em casa. Os pais são as referências iniciais de seus filhos, são modelos a serem seguidos. E, como o comportamento provém do hábito, atitudes corretas ou incorretas começam a ser observadas desde a mais tenra idade.

Pais agressivos podem gerar filhos agressivos, pais mal-educados podem gerar filhos mal-educados. Consideremos alguns exemplos cotidianos: um pai que joga papel no chão, uma mãe que fura fila, um pai que trata com arrogância outras pessoas, uma mãe incapaz de cumprimentar o porteiro do edifício em que mora, um pai que não sabe dizer “muito obrigado”, uma mãe que trata preconceituosamente outra pessoa, um pai que tenta sempre levar vantagem. Cenas do dia a dia das cidades que influenciam outras pessoas a agir da mesma maneira.

O Rio de Janeiro fez uma enorme campanha no carnaval para que os foliões não urinassem nas ruas. É necessário fazer uma campanha dessa natureza? As pessoas não sabem o local adequado para urinar? Infelizmente, o que parece óbvio não é. Será que precisamos de outras campanhas que ensinem a dizer “por favor”, “muito obrigado”, “pois não”, “por gentileza”? E de uma campanha para ensinar que o lugar do lixo é no lixo? E de outra para mostrar que o planeta água começa a sofrer com a ausência de água e que, portanto, seu uso deve ser racional? E de outra, ainda, para mostrar que todos devem “tratar o outro como gostariam de ser tratados”?

A educação está na base desses comportamentos cotidianos. Ser elegante melhora o humor, melhora a convivência entre as pessoas. Um líder deve corrigir seus liderados, mas com elegância. Um professor precisa impor limites aos seus alunos, mas com elegância. É assim que se constrói uma cidade educada. A partir de famílias educadas, de escolas educadas, de empresas e organizações educadas. É no dia a dia que se aplica a teoria da ética e do respeito. E sem esperar que a iniciativa seja do outro. Se cada um fizer a sua parte, conviver será uma experiência muito menos penosa. Ou melhor, profundamente agradável.

Gabriel Chalita é deputado federal e escritor