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quarta-feira, 6 de abril de 2011

À nós!

Janela de nossa casa
"A ARTE DE SER FELIZ"

[... "Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flôres. Para onde iam as flôres? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz.

Houve um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não a podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um jardim quase seco. Era numa época de estiagem, da terra esfarelada e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam o muro. Gatos que abrem e fechamos olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho no ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. Eu me sinto completamente feliz.

Mas quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros, finalmente dizem, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim..."] -  Cecilia Meireles


O texto nos convida a olhar para o cotidiano e perceber que tudo em nosso redor existe para nos fazer felizes. Sem demagogia sabemos extrair esta felicidade das coisas simples. O bom é que somos felizes nos acontecimentos mais corriqueiros e habituais. Frequentemente olhamos vemos e avaliamos com profundidade a beleza que nos permeia. Aprendemos a enxergar a vida com a leitura do amor. Existe um certo alguém cujo codinome é Régis, que tenta agredir “uma de nós” ao dizer que somos pobres. Mas como podemos nos considerar pobres se vivemos o nidificar de mãe, de pai e até de irmãos nos ensinando o belo explícito no mundo? Poucos vêm à maravilha realmente, mesmo entre nós. Não nos surpreendemos quem não soube compreender a riqueza, nem retira da infância uma bela história. Enfim, cada um tem uma janela para dela tirar lembranças que melhor lhe convier. Disseram certo à poetisa, uns tiram lembranças tristes e pobres, outros tiram lembranças alegres, ricas e adoram recordar. Penso que nesta última que estamos inseridos.

"Se buscarmos um caminho no nosso interior certamente este caminho nos apontará uma janela. Coisas da vida! mimiseven  http://is.gd/Ugk76p 

Cps, 06/04/11