Páginas

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Maniqueísmo

Catilinárias
Políticos seguem a risca exemplos de discursos que ecoam pela história. São fontes inesgotáveis de expressões perpetuadas no tempo como: *Catilinárias.

Nosso parlamento conta com oradores esbanjando expressões em suas frases não muito conhecidas ou pouco discutidas, que vão de chavões grosseiros até clichês perfeitos.

A bola da vez é a expressão “maniqueísta” sinônimo de pessoas com pensamento limitado, sem meio termo, pares antagônicos extremistas como: sim/não, certo/errado, direita/esquerda, preto/branco, bem/mal, capitalista/comunista, progressista/reacionário etc. “Quem não está comigo está contra mim”.

Outro exemplo dualístico está na política anti-semítica dos nazistas com bases maniqueístas: arianos e não arianos.

Candidatos a prefeitura discursam: -"Eu não sou maniqueísta!" ou "Isto é maniqueísmo!" e ainda "Vossa Excelência é maniqueísta!" quando estes discordam de suas idéias ou têm comportamentos radicais.

Mas, o que é maniqueísmo afinal?

Maniqueísmo – religião filosófica do Séc III, fundada pelo profeta persa Maniqueu ou Mani (título). que divide o mundo entre Bem (Deus) e Mal (Diabo) - matéria é intrinsecamente má e o espírito, intrinsecamente bom. Popularizado o termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois princípios opostos:  O Bem e o Mal.

Sua idéia era sintetizar elementos das religiões conhecidas ( Zoroastrismo/Hinduísmo/Budismo/Judaísmo e Cristianismo). Ele considerava Zoroastro, Buda e Jesus como "pais da Justiça", onde pretendia, através de uma revelação divina, purificar e superar as mensagens individuais de cada um deles e anunciar uma verdade completa.

Hoje o pensamento maniqueísta camufla discursos religiosos que falam tanto do mal, que não dá tempo de falar do bem. Binário preguiçoso reduz a um par antagônico: positivo/negativo, luz/treva que sucumbi à complexidade comportamental humana. Apega-se à rápida solução, sem querer entender a verdade do outro. A cultura, educação, sabedoria são como antídotos às manifestações oportunistas do maniqueísmo.


*As Catilinárias - quatro célebres discursos de Marcus Tullius Cicero, consul romano, pronunciados em 63 a.C. Após dois mil anos, são repetidas as acusações de Cícero contra Catilina em pleno senado romano:
Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Quamdiu etiam furor iste tuus nos eludet? Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia?” – ou “Até quando, enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda esse teu rancor nos enganará? Até que ponto a (tua) audácia desenfreada se gabará (de nós)?.
O primeiro e o último foram ditos ao senado de Roma, os outros dois ao povo romano. Todos feitos para denunciar o nobre falido financeiramente Lúcio Sérgio Catilina. Ele e seus seguidores subversivos, para obter riquezas e poder planejaram derrubar o governo republicano.
Após o confronto com Cícero, Catilina resolveu afastar. Juntou-se a seu exército ilícito para armar defesa. No ano seguinte morreu no campo de batalha.