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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Assim a vida nos coloca

Exemplo fantástico que o Fábio nos deu, no poema de Drummond, onde José fica em situações desfeitas. A festa existia e acabou; os amigos presentes se foram. O poeta desconstrói o contexto do personagem e o coloca nu diante dos fatos: e agora José? Como você reage neste processo de desconstrução?

A vida constrói e inevitavelmente desconstrói. Também nos capacita a partir da desconstrução para uma nova etapa. A vida é inconstante, o jeito que somos hoje perante ela pode não servir para amanhã, ela nos posiciona de inúmeras formas. Vemos que nossa família, nossos amigos, nossos espaços e nós mesmos, não somos mais iguais. Estruturas modificam o tempo todo e temos que reconstruí-las.

O conhecimento lembra desconstrução. Tínhamos uma idéia construída sobre algo, ao falarmos com alguém, descobrimos fatos novos, que até então não percebíamos. Pronto! Quebramos este conhecimento e o renovamos. Assim que se dá o processo de desconstrução. Desabou o conhecimento antigo e fez-se um novo. Enquanto vivemos seremos desconstruídos e reconstruídos, processo cíclico que espetacularmente nos faz ir além.

A vida quer de nós uma resposta nova para a existência, mas a pergunta que ela nos faz é sempre a mesma: e agora? Agora as respostas são diferentes, são mais sensíveis, amadurecidas, evoluídas.

JOSÉ: http://is.gd/f9yNj

O poema mostra José no seu cotidiano angustiante. Sem espaço, sem alegria e sem felicidade. Está só na fria escuridão do abandono. Ama, mas é irônico, faz versos, mas é desconhecido, sem sobrenome. De onde veio, para onde vai? Quem sabe!? Sofre de carência afetiva, não pode apegar-se em qualquer vício. Para ele o dia não veio e nada vem mesmo de mentiras ou de ilusões. Não se realiza como pessoa. A esperança mofou. Seu terno o impossibilitado de agir. Tem chave, mas não há porta. Nem morrer pode, o mar onde quer morrer secou. Quer voltar para Minas que é seu ponto de equilíbrio, a Minas dos seus sonhos, de sua infância, mas essa Minas, não existe mais, modificou. Nem tem fé para se refugiar. José não encontra a si mesmo. Perdeu-se e sem qualquer direção ele prossegue: para onde, José?

José se construiu, foi desconstruído e não fez o exercício de reconstrução? E agora José?

Mi, Cps 14/09/10