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sábado, 15 de janeiro de 2011

A "Utopia" de Thomas More

                                                                                 
Thomas More
Expressivo nome do humanismo renascentista britânico, pensador, advogado muito culto e conhecia as línguas clássicas, grego e latim. Cultivava relações e amizades e reconhecia as injustiças européias. Repudiava feitos bélicos, ascetismo monástico dos padres. Como renascentista, valorizava o conforto e o bem-estar coletivo.

Mas, ao tornou-se Lord-Chanceler, não tolerou protestantes ou quem divergisse do rei. Católico tradicional com vida asceta, negou-se a apoiar Henrique VIII. Sucumbiu ao cutelo com dignidade em 06/07/1535. Um dos poucos ilustres, que morreram por suas convicções.


Thomas More (1478- 1535), no latim Thomas Morus. Nasceu e morreu em Londres, discípulo e amigo de Desiderius Erasmo, filósofo e teólogo de Rotterdam, na Holanda. Trocavam correspondências desabafadoras, como: “Não podes avaliar com que aversão me encontro nesses negócios de princípe, não há nada de mais odioso do que essa embaixada.” Referia-se da missão diplomática, para resolver dissidência entre Henrique VIII e o princípe Carlos da região de Castela.


Henrique VIII fundou o anglicanismo, religião oficial da Inglaterra, para se casar de novo. Isso não era permitido pela Igreja Católica, ao consultar o Papa, Henrique descobriu que poderia casar de novo se ficasse viuvo. Sua genética lhe dava filhas e desejava um filho. Por achar, que o defeito estava nas mães matou diversas esposas. E o anglicanismo permitia o divórcio.

More como católico não aceitou a nova religião, pediu demissão do cargo, porque na religião anglicana o chefe de estado era o chefe de religião. Desgostado, Henrique condenou More a prisão perpétua e depois à morte por crime de alta traição. Foi decapitado.


Sua cultura


O More intelectual vivia em uma sociedade, onde a política das enclousures, cercamentos das terras comunais ordenados pelos nobres ingleses para transformá-las em pastagens de ovelhas.


A tragédia se abateu sobre os pobres camponeses. Coube-lhes enormes sacrifícios, desalojados passaram a vagar pelos campos e vilarejos, entregues ao crime e ao castigo. Com o aviltamento salarial somado ao desemprego, resultou em milhares na marginalidade. Carrascos penduravam uns vinte condenados por dia nos toscos cadafalsos.

More apontou tortura a que os presos eram submetidos durante as investigações. Ergueu seu protesto, principalmente contra as injustiças de Henrique VIII. Atacou a monarquia e as instituições, bem como a vida de luxos inúteis em cima do trabalho de outros.

Inspirou em Platão e anarquistas, comunistas se inspiraram nele


A sociedade sonhada de More


 Como humanistas idealizava uma sociedades perfeitas, a bondade natural dos homens, o que possibilitava a constituição de organizações perenes e justas que banissem o despotismo e a opressão.

Aproveitou uma viagem diplomática a Flandres para visitar e agradecer o amigo holandês Erasmo de Roterdã , que lhe dedicara uma citação no livro Elogio da Loucura. Entre uma conversa e outra resolveu então escrever o que a tempo ocupava-lhe a mente.

Utopia. Sociedade imaginária, onde o roubo não existe, logo, anacroniza-se a prática do sistema penal e castigo físico.


Utopia significa lugar nenhum, a ilha de comunidade perfeita, lugar onde não há propriedade privada, homens e mulheres trabalham, sem exageros três horas pela manhã, três a tarde e um intervalo de duas horas no meio.

Todos vestem iguais, os metais são preciosos e as jóias são brinquedos de crianças.


Num trecho o livro descreve a chegada de embaixadores estrangeiros usando jóias extravagantes, com vestimentas de cortes européias. Quando desembarcam ouvem, por acaso, crianças rindo e dizendo: "Olhem para os bebezões". Logo percebem que jogos de prestígio não funcionaria em Utopia. Tiram as jóias!


Utopia é um ataque amargo a sociedade do renascimento cristão europeu, seus habitantes são pagãos pacíficos, amáveis e respeitáveis. Ensinam crianças a cultivarem a terra e a educação artística liberal não tem fim.


Entretanto, More não concorda com todas as práticas dos moradores de Utopia, ele permanece com muitas de suas idéias e termina o livro convicto de que Inglaterra e Europa jamais adotarão a visão utopiana


O livro é político, principal obra de More, nele não está especificado a localização de Utopia só diz que é afastada do continente e existe lá uma sociedade ideal, cujo termo semântico dado pelo autor virou sinônimo de idealização, inatingível, uma coisa boa não alcançável e traduz um estado de bem estar dos seres humanos.


Vale lembrar que acabar com a escravidão ou o homem voar era utópico e aconteceu. Nem precisamos falar dos adventos tecnológicos.


Bem! Voltando ao livro, o nome da capital de Utopia é Amaurotum (evanescente que some como miragem) significa “cidade do sonho” banhada pelo rio Anidro (sem um pingo d’água). Os cidadãos são alopolitas (sem cidades), governados pelo príncipe Ademos (aquele que não tem povo) e seus vizinhos são os Achorianos (homens sem país).


Claramente percebemos Platão no livro. Na República, Platão fala de uma cidade ideal, onde os reis-filósofos governam, não ha família, filhos tirados dos pais e os casamentos são selecionados para garantir a eugenia. More preserva a família, a eleva à categoria de educadora. A sociedade utopiana é familiar, toda Ilha é uma “Grande Família”. Os cidadão adotavam um regime de comunhão de bens. Proudhon mais tarde chamaria a propriedade de roubo. Em Utopia existe também a comunhão de bens.


Os dois livros estão na forma de um diálogo, quase um monólogo.


No livro, More, em primeira pessoa conta que conhece Rafael Hitlodeo, viajante experimentado, que sabe diversas coisas de diversos países ao redor do mundo. Nada demora para que passe a relatar o livro.


Inicialmente fala dos povos acorianos e macorianos de sociedades, polileritas e sistema de justiça. Nação dependente da Pérsia, vivem longe do mar numa terra fértil.

São pacíficos, se alguém furtar é obrigado a devolver ao dono, e não ao Estado. Rebeldes e ociosos são castigados. Criminosos são marcados na cabeça e transformados em escravos.


More descreve uma discussão sobre ser possível ou não aplicar essa legislação na Inglaterra. Abriu-se um espaço onde ridicularizam os freis ali presentes chamando-os de vagabundos encolerizando-os. More achava o cristianismo bom no príncipio: “torceram o evangelho como se fosse uma lei de chumbo, para modelá-lo segundo os maus costumes dos homens”. Sociedade justa deveria ter leis pouco numerosas e riquezas repartidas.

Sua principal crítica social gira em torno da abolição da propriedade privada, que sem ela, seria impossível a igualdade. Uns dos primeiros a criticar a propriedade na era cristã.



A ilha "UTOPIA"
 Gabriel, um personagem descreve Utopia: - É uma ilha em forma de semi-círculo, de quinhentas milhas de arco. Tem uma fortaleza e é inacessível para quem não é nativo, pois existem poucos caminhos que escapam dos rochedos.


O nome da ilha vem de seu fundador, Utopus, que primeiro se apoderou dela. Existem cinquenta e quatro cidades. Na capital, são trinta famílias com quarenta indivíduos cada. Cada família é dirigida por uma filarca, ou aquela que ama. Existe renovação anual do trabalho agrícola, uma das principais atividades. Todos os meses há uma festa. Tem mel e sucos de frutas. Fazem música nas horas de lazer, além de outras coisas.


Nas cidades, grande parte das casas são de três andares e há palacetes também. Eles são governados por um príncipe. As crianças são educadas nas escolas. Além de agricultores,os utopianos são tecelões, pedreiros, oleiros e carpinteiros. As mulheres trabalham nos serviços mais leves, como a tecelagem. Vestir roupas luxuosas é censurável, pois elas incitam a desigualdade e a falsa superioridade.


O trabalho não é esgotante e as massas trabalhadoras não trabalham para vagabundos e parasitas, como por exemplo certos nobres e religiosos. More retoma o exemplo do zangão da República, que não trabalha. O chefe é o mais velho, todos o respeitam, depois vem os maridos, as esposas. Crianças obedecem aos pais.


O orgulho é criticado como pai de todas as pestes e também a vaidade, ambos levam ao luxo supérfluo. O mundo adotaria o regime de Utopia se não fosse o orgulho.


Ninguém tem dinheiro, mas tem hospitais e médicos, que por sinal são pouco requisitados todos são saudáveis. É uma das profissões mais respeitadas. O prazer não está ligado ao luxo. Esse leva a um “falso prazer”, que deve ser descartado, por ser na verdade desagradável. O verdadeiro prazer pode ser mental ou corporal.


Um prazer mental, pode vir, por exemplo quando se compreende uma coisa. O prazer corporal pode também vir de várias formas, como no ato de comer, de fazer cocô, ou de aliviar algum excesso, como o sexo. Mas o principal prazer corporal é a saúde contínua. Aprovam a volúpia que não leva ao mal.


More descreve o que ele consideram volúpia, não apenas a sensual, mas todo o prazer do corpo, que deve ser cultivado. Apesar de por fora não parecerem, todos são vigorosos. A saúde perfeita tem equilíbrio entre todas as partes do corpo.


O bem individual é submetido ao bem geral. Tem ouro e prata importados, mas esses estão abaixo dos ferros, e não são valiosos. Na religião acreditam na imortalidade da alma. Deus existe e recompensa a virtude. Os utopianos acreditam em felicidade após a morte, por isso não choram os mortos, só os doentes. A virtude se consegue vivendo segundo a natureza. A razão leva adoração de Deus, os dois estão em comunhão. Só existimos por causa de Deus.


A religião de Utopia funciona como uma espécie de regulador social, pois é do temor à Deus que advém a busca por justiça. Pois, se não pensarmos em uma vida após onde seremos julgados, todos buscarão todas as espécies de prazer, sem limite. A religião tem algum preceitos básicos, com influência (do More autor) de escolas diferentes e até mesmo contrárias, como a epicurista e estóica.


O catolicismo também aparece e Hitlodeu conta ter convertido vários Utopianos à ele. Os utopianos tem liberdade de culto e tolerância religiosa, alguns não acreditam em uma força na natureza que tudo rege, tenha ela o nome que tiver, outros não acreditam na imortalidade da alma.


A caça é proibida, por ser considerada crueldade. Houve outras interações culturais em Utopia. Gabriel, que permaneceu lá por cinco anos ensinou grego e o cristianismo, conquistou muitos adeptos. Todos concordam que existe um ser supremo.


Os materialistas são desprezados como resultado de uma natureza inerte e impotente. Existem poucos padres. Mas há festas religiosas todos os meses, e um culto muito poderoso, que enche todos de reverência e temor à Deus.


O sacerdote nessas ocasiões usam uma roupa diferente, feita de penas, todos cantam. A música é vista como uma tipo especial de prazer, que embevece todos os sentidos ao mesmo tempo.


A guerra é motivo de vergonha, mas às vezes é necessária. Os zapoletas, de uma nação vizinha vivem para a guerra e são semi selvagens. Todos são treinados para defender a República em caso de guerra. Mas são pacíficos.


Os sacerdotes rezam primeiro pela paz e depois pela vitória. Se um utopiano é humilhado em terra estrangeira, exige-se a punição dos culpados. Se o caso se complicar, é guerra. Ninguém busca  glória no campo de batalha.


Preferem até pagar mercenários para lutar em seu lugar, visto que tem acúmulo de ouro. A única função do ouro é pagar mercenários, além é claro de servir para a feitura de pinicos e correntes para escravos.


Na ilha tem escravos, que são geralmente prisioneiros de guerra ou criminosos. Existem alguns estrangeiros que se oferecem para serem escravos, só para poderem viver na ilha, esses são muito respeitados, pois o trabalho é algo enaltecido por todos.


Os utopianos são muito patrióticos, preferem qualquer um de seu país à um rei estrangeiro. Na ilha, todos estão em casa em qualquer cidade. Viajam com um visto do príncipe. As cidades não são muito distantes. E apesar de ninguém ter nada, todo mundo é rico.


Nos centros das casas são depositados materiais de primeira necessidade produzidos, que são pegos pelos pais de famílias.


Século XXI - O que sonhamos nós????? http://is.gd/r9vfqF


Fonte: http://www.robertexto.com/archivo14/thomas_morus.htm