Michelângelo |
Cresceu em Florença e mais tarde viveu com um escultor e sua esposa na localidade florentina de Settignano, onde seu pai tinha uma mina de mármore e uma pequena fazenda.
Contra a vontade de seu pai, o canhoto Michelangelo escolheu ser aprendiz de Domenico Ghirlandaio por três anos começando em 1488. Também foi aprendiz, na escultura, de Bertoldo di Giovanni. Impressionado com sua técnica, Ghirlandaio recomendou-o para Florença para estudar com Lourenço de Médici.
De 1490 a 1492, frequentou a escola e durante sua estada, seria influenciado por muitas pessoas proeminentes, e pela filosofia platônica da época, que modificariam e expandiriam suas idéias na arte e ainda seus sentimentos sobre sexualidade.
Foi durante este período que criou dois relevos: a Batalha de Centauro baseada em um tema sugerido por Poliziano e encomendada por Lourenço de Médici e a Madonna da Escada. Após sua morte, Michelangelo deixou a corte dos Medici. Nos meses seguintes, produziu um crucifixo de madeira para o pároco da Igreja de Santa Maria del Santo Spirito, que tinha o deixado estudar anatomia a partir de alguns cadáveres do hospital da Igreja.
Apesar de ter feito poucas atividades além das artes, sua versatilidade em vários campos fez com que rivalizasse com Leonardo da Vinci no título de ícone da Renascença. Michelangelo foi genial em vários campos e, além disso, também recebeu tarefas diplomáticas. Duas biografias foram escritas sobre ele ainda em vida (uma de Giorgio Vasari).
A virada do Quattrocento para o Cinquecento foi um dos momentos mais marcantes para a História da arte ocidental, quiçá mundial. A Itália, com epicentro em Florença, deu ao mundo uma tal gama de geniais artistas que parece milagrosa. "Não há como explicar a existência do gênio. É preferível apreciá-lo", diz Gombrich, tentando entender por que tantos grandes mestres nasceram no mesmo período.
Ghirlandaio fora mestre de Michelangelo; Rafael aprendiz de Perugino; e no atelier de Verrocchio passaram: Leonardo, Perugino e Botticelli. Mais que um liame entre o Quattrocento e o Cinquecento, esta geração de artistas "representa um ponto final, a constatação de uma crise. Algo que ficará manifesto pelo fato de que tanto Leonardo como Michelangelo construírem em boa medida suas respectivas linguagens sobre a negação da deles".
Teto da Capela Sistina - (afresco) |
Convencido que era mais um escultor, que um pintor. O Papa Júlio II, sobrinho do Papa Sisto IV contratou-o para pintar o teto da capela. Dedicou-se a tarefa e fez com tanta mestria que praticamente ofuscou as obras primas de seus antecessores. De fato, um dos maiores tesouros artísticos da humanidade.
É difícil acreditar que tenha sido obra de um só homem, e que o mesmo ainda encontraria forças para retornar ao local, duas décadas depois, e pintar na parede do altar, sacrificando, inclusive, alguns afrescos de Perugino, o “extraordinário espetáculo” do Juízo Final, entre 1535 e 1541, já sob o pontificado de Paulo III.
A pintura monumental do teto da Capela Sistina no Vaticano contém 300 figuras e levou quatro anos para ser feita (1508 – 1512). Apesar de sua pouca afeição à pintura, criou duas obras históricas.
Originalmente deveria pintar os 12 Apóstolos, mas protestou e pediu uma tarefa mais audaciosa, um esquema que representasse toda a doutrina da Igreja Católica centrada nas cenas do Gênesis (a Criação da Terra por Deus, a Criação de Adão e Adão e Eva no Paraíso, a Criação da Humanidade e sua queda, a Humanidade representada por Noé), e por fim O Juízo Final.
A superfície da abóbada foi dividida em áreas concebendo-se arquitetonicamente o trabalho de maneira que resultasse numa articulação do espaço dividido por pilares. Nas áreas triangulares alocou as figuras de profetas e sibilas; nas retangulares, os episódios do Gênese. Para entender estas últimas deve-se atentar para as que tocam a parede do fundo.
Deus criando o sol e a lua - (detalhe) |
DEUS - (detalhe) |
Deus separando a luz das trevas (afresco) |
A criação de Adão (afresco) |
Eva e Adão no Paraíso (afresco) |
Na perspectiva cristã, contudo, a morte (imerecida) de Cristo é recorrentemente suposta como necessária para salvar a humanidade desse "pecado de origem" que seria congênito, de geração em geração. A Bíblia não põe fim à essa que é uma das maiores diatribes (crítica violenta) cristãs. Sobre este pecado têm sido historicamente um dos principais motivos de cismas, heresias e divisões entre os cristãos desde os séculos iniciais do cristianismo e várias hipóteses divergentes sobre o significado da narrativa existem também entre estudiosos laicos do texto (antropólogos, psicanalistas e outros).
Na perspectiva psicanalista foi sugerido que o pecado mencionado em Gênesis teria sido o ato sexual. Explicação não encontra nas tradições judaicas pré-cristãs, em que a união carnal entre o homem e a mulher foi estabelecida por Deus. Mas se o pecado original fosse o ato sexual, Deus mesmo teria levado o homem ao pecado, quando ordenou, crescei, multiplicai e enchei a terra.
Uma das explicações "antropológicas" (não entrando em desacordo com o texto) é entender a narrativa no contexto de que o livro sagrado pretende a apresentar uma explicação ou uma construção explicativa das origens do universo, do nosso mundo, da humanidade, da civilização em geral e da hebraica em particular, e por fim, do bem e do mal. Até ter o conhecimento do bem e do mal o homem vivia num "estado de natureza", em oposição a um "estado de cultura", explicação essa totalmente compatível com o evolucionismo darwinista e a evolução das espécies.
O conhecimento do bem e do mal seria o divisor de águas, a maneira de reconhecer-se humano, com valores, crenças e objetivos, ou seja, a transição do animal para o hominal(?), como definiu o antropólogo Teilhard de Chardin, padre católico. Aí o homem se envergonhou da nudez, tomou consciencia da morte e da mortalidade, de que todo seu corpo veio da terra, à qual deverá tornar, e passou a trabalhar e acumular, "suando sob o sol".
O texto ainda lança uma espécie de enigma de transcendência: a árvore da vida eterna com seu fruto, impedida ao homem (ao menos por momento), pelas espadas flamejantes de querubins. Não se trata, evidentemente, de frutas nem árvores, mas de um texto espiritual cujo significado vem desafiando a humanidade ao longo dos milênios.
O Dilúvio - (afresco) |
O sacrifício de Noé - Afresco |
O Juízo Final (afresco) |
Duas de suas mais famosas obras (a Pietà e o David) foram realizadas antes de seus trinta anos.
Pietá ou piedade - (escultura). |
DAVID - (escultura) |
Madonna and the Child |
Os sete Profetas:
Isaías |
O capítulo 6 do livro informa sobre o chamado de Isaías para tornar-e profeta através de uma visão do trono de Deus no templo, acompanhado por serafins, em que um desses seres angelicais teria voado até ele trazendo brasas vivas do altar para purificar seus lábios a fim de purificá-lo de seu pecado. Então, depois disto, Isaías ouve uma voz de Deus determinando que levasse ao povo sua mensagem.
Focando em Jerusalém, a profecia de Isaías, em sua primeira metade, transmite mensagens de punição e juízo para os pecados de Israel, Judá e das nações vizinhas, tratando de alguns eventos ocorridos durante o reinado de Ezequias, o que se verifica até o final do capítulo 39. A outra metade do livro (do capítulo 40 ao final) contém palavras de perdão, conforto e esperança.
Pode-se afirmar que Isaías é o profeta quem mais fala sobre a vinda do Messias, descrevendo-o ao mesmo tempo como um servo sofredor que morreria pelos pecados da humanidade e como um príncipe soberano que governará com justiça. Por isso, um dos capítulos mais marcantes do livro seria o de número 53 que menciona o martírio que aguardava o Messias: "Mas ele foi ferido pelas nossas ,transgressões e moído pelas nosas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados". (Is 53:5). De acordo com a tradição judaica, Isaías teria sido morto serrado ao meio na época do rei Manassés.
Daniel |
Ezequiel |
Chamado para profetizar durante o cativeiro babilônico do povo judeu. Diz-se que fundou uma escola de profetas e que ensinava a Lei à beira do rio que corta a cidade de Babilônia. São curiosas as visões que o profeta teve sobre a glória de Deus e os sinais que aconteceram em sua própria vida demonstrando a ação de Deus são fortes e marcantes. Ezequiel perdeu a sua esposa como sinal da queda de Jerusalém.
Joel |
Jonas |
Crucificavam ou empalavam os prisioneiros, arrancavam seus olhos e os esfolavam vivos. Temendo pela sua vida, Jonas foge rumo a Társis, no SE da Península Ibérica (na moderna região da Andaluzia). Situa-se a aproximadamente 3.500 km do porto de Jope (a moderna Tel Aviv-Yafo). Segundo a bíblia, durante a viagem acontece um violenta tempestade. Esta só acaba quando Jonas é lançado ao mar. Ele é engolido por um "grande peixe" (Jonas 1:17) e no seu estômago, passa 3 dias e 3 noites. Arrependido reconsidera a sua decisão e é vomitado pelo peixe numa praia e segue rumo para Nínive.
Zacarias |
Jeremias |
História do povo de Israel narradas no AT: David e Golias; a punição de Amã, do Livro de Ester, a Serpente de Bronze.
Punição de Amã |
Serpente de bronze do Livro de Ester |
Golias e Davi |
Judite e Holofernes |
Moisés - (escultura) |
Tumba da família Médici - (escultura) |
Papa Júlio II |
A Sagrada família |
A visão de Paulo |
Existe nessa obra um outro detalhe insólito, no que diz respeito à iconografia da conversão de Paulo, que o papa Bento XVI expressou com razão, na reabertura da Capela, ao término das restaurações, em 04/07/09: é o fato estranho de um apóstolo ser representado como um velho. “Entretanto”, diz o Papa, “sabemos – e também Michelangelo o sabia muito bem – que o chamado de Saulo no caminho de Damasco teve lugar quando ele tinha por volta de 30 anos de idade”. Por que Michelangelo força esse ponto? Eis a explicação do Papa: “O rosto de Saulo-Paulo, que de resto é o do próprio artista já idoso, inquieto e em busca da luz da verdade, representa o ser humano necessitado de uma luz superior. É a luz da graça divina, indispensável para adquirir uma nova visão mediante a qual compreender a realidade orientada para a ‘esperança que vos espera nos céus’ – como escreve o Apóstolo na saudação inicial da Carta aos Colossenses”.
A crucifixão de Pedro |
Crucificação de Pedro - (afresco) |
Dois projetos importantíssimos de arquitetura
Cúpula da Basílica de São Pedro - Roma |
Responsável pela abside, pelo transepto e pela cúpula, Michelangelo deixou em 1564, ano de sua morte, o trabalho todo praticamente completo.
O Túmulo Papal |
Batalha dos Centauros |
Michelangelo adere plenamente a atmosfera, poética e erudita, evoca a magnificência da Grécia Antiga, seu ideal de beleza (baseado no equilibrio das formas) e sua concepção de mundo - a filosofia de Platão. Ao produzir O Combate dos Centauros, baixo-relevo de tema mitologico, sente-se não um artista italiano inspirado nos padrões clássicos helênicos, mas um escultor grego de verdade. Em seu primeiro trabalho na pedra, com seus frisos de adolescentes atléticos~ reinam a força e a beleza impassíveis, como divindades do Olimpo.
Baco Bêbado (escultura) |
Vida pessoal de Michelangelo
Abstêmio, indiferente à bebida e à comida, pessoa solitária e melancólica. Deixou também cerca de 300 poemas em italiano vernáculo, que escreveu entre 1501 e 1560, marcados por uma forte carga homoerótica. Porém, esta foi alterada na primeira edição da sua poesia, em 1623, publicada pelo seu sobrinho. Em 1893, John Addington Symonds traduziu os poemas originais para inglês.
Fundamental na arte, sua paixão era pela beleza masculina, que o atraía de modo emocional e estético. Em parte, uma expressão da idealização renascentista do corpo humano. Mas, para ele, há uma resposta única a essa estética.
Muitas vezes arrogante com os outros e constantemente insatisfeito com ele mesmo, via a arte como originada da inspiração interna e da cultura. Via a natureza como uma inimiga que tinha de ser superada. Suas figuras são dinâmicas. Para ele, a missão do escultor era libertar as formas que estavam dentro da pedra.
Seu pai Ludovico di Lionardo Buonarroti Simoni um homem violento, "temente de Deus", sua mãe, Francesca morreu quando tinha 6 anos. Eram 5 irmãos. Michelangelo foi entregue aos cuidados de uma ama-de-leite cujo marido era cortador de mármore na aldeia de Settignano. Mais tarde, brincando, Michelangelo atribuirá a este fato sua vocação de escultor. Brincadeira ou não, o certo é que na escola enchia os cadernos de exercícios com desenhos, totalmente desinteressados das lições sobre outras matérias.
Por isso, mais de uma vez foi espancado pelo pai e pelos irmãs de seu pai, a quem parecia vergonhuso ter um artista na familia, justamente uma familia de velha e aristocrática linhagem florentina, mencionada nas crônicas locais desde o século XII. E o orgulho familiar jamais abandonará Michelangelo. Ele preferirá a qualquer titulo, mesmo o mais honroso, a simplicidade altiva de seu nome: "Não sou o escultor Michelangelo. Sou Michelangelo Buonarroti".
Aos 13 anos, sua obstinação vence a do pai: ingressa, como aprendiz, no estúdio de Domenico Ghirlandaio, já então considerado mestre da pintura de Florença. Mas o aprendizado é breve - cerca de um ano -, pois Michelangelo irrita-se com o ritmo do ensino, que lhe parece moroso, e além disso considera a pintura uma arte limitada: o que busca é uma expressão mais ampla e monumental. Diz-se também que o motivo da saida do juvem foi outro: seus primeiros trabalhos revelaram-se tão bons que o professor, enciumado, preferiu afastar o aluno. Entretanto, nenhuma prova confirma essa versão.
COM OS MÉDICI EM FLORENÇA
Em 1513, o Papa Júlio II morreu, e seu sucessor, o Papa Leão X, um Médici, pediu que reconstruísse o interior da Igreja de São Lourenço, em Florença, e a adornasse com esculturas. Relutantemente aceitou, mas foi incapaz de terminar a tarefa (o exterior da igreja ainda não está adornado até hoje). Em 1526, os cidadãos de Florença, encorajados pelo saque de Roma, expulsaram os Médici e restauraram a república. Michelangelo voltou para sua amada Florença para ajudar a construir as fortificações da cidade de 1528 a 1529. A cidade caiu em 1530 e os Médici voltaram ao poder.
Pedro de Médici, filho mais velho de Lourenço de Médici, recusou-se a financiar seu trabalho artístico. Também nessa época, as idéias de Savonarola tornaram-se populares em Florença. Sob tais pressões decide sair de Florença e vai para Bolonha por três anos. Logo depois, o Cardeal San Giorgio compra a obra de Michelangelo em mármore Cupido e decide chamá-lo a Roma em 1496. Influenciado pela antiguidade de Roma, ele produz Baco e a Pietà. A Pietà foi uma encomenda do embaixador francês na Santa Sé. Apesar de praticamente se dedicar à escultura, Michelangelo nunca deixou de desenhar, ele desenhava por prazer de segurar o lápis.
Florença e o Mecenato
Deixando Ghirlandaio, Michelangelo entra para a escola de escultura que o mecenas Lourenço, o Magnifico - riquissimo banqueiro e protetor das artes em Florença mantinha nos jardins de São Marcos. Lourenço interessa-se pelo novo estudante: aloja-o no palácio, faz com que sente à mesa de seus filhos.
Igreja del Carmine |
Em 1490 com 15 anos, o monge Savonarola começa a inflamada pregação mistica que o levará ao governo de Florença. O anúneio de que a ira de Deus em breve desceria sobre a cidade atemoriza o jovem artista: sonhos e terrores apocalípticos povoam suas noites.
Lourenço |
Na primavera do ano seguinte, passa novamente por Florença. Esculpe o Cupido Adormecido, obra "pagã" num ambiente tomado de fervor religioso -, vai a Roma, onde esculpe Baco Bêbado, Adônis Morrendo. Enquanto isso, em Florença, Savonarola faz queimar livros e quadros - "as vaidades e os anátemas". Porém, a situação se inverte. Os partidários do monge começam a ser perseguidos. Entre eles, está um irmão de Michelangelo, Leonardo - que também se fizera monge durante as prédicas de Savonarola. Michelangelo não volta. Em 1498, Savonarola é queimado. Michelangelo se cala. Nenhuma de suas cartas faz menção a esses fatos. Mas esculpe a Pietá, onde uma melancolia indescritível envolve as figuras belas e dássicas. A tristeza instalara-se em Michelangelo.
Na primavera de 1501, ei-lo por fim em Florcnça. Nesse mesmo ano, surgirá de suas mãos a primeira obra madura. Um gigantesco bloco de mármore jazia abandonado havia 40 anos no local pertencente à catedral da cidade. Tinha sido entregue ao escultor Duccio, que nele deveria talhar a figura de um profeta. Duccio, porém, faleceu repentinamente e o mármore ficou á espera. Michclangelo decidiu trabalhá.lo. O resultado foi o colossal Davi, símbolo de sua luta contra o Destino, como Davi ante Golias.
Uma comissão de artistas, entre os quais Leonardo da Vinci, Botticelli, Filippino Lippi e Perugino, interroga Michelangelo sobre o lugar onde deveria ficar a estátua que deslumbra a todos quc a contemplam. A resposta do mestre é segura: na praça central de Florença, defronte ao Palácio da Senhoria. E para esse local a obra foi transportada. Entretanto, o povo da cidade, chocado com a nudez da figura, lapidou a estátua, em nome da moral.
Em março de 1505, Michelangelo é chamado a Roma pelo Papa Júlio lI. Começa então o periodo heróico de sua vida. A idéia de Júlio II era a de mandar construir para si uma tumba monumental que recordasse a magnificência da Roma Antiga com seus mausoléus suntuosos e solenes. Michclangelo aceita a incumbência com entusiasmo e durante oito meses fica em Carrara, meditando sobrc o esquema da obra e selecionando os mármores que nela seriam cmpregados.
Enormes blocos de pedra começam a chegar a Roma e se acumulam na Praça de São Pedro, no Vaticano. O assombro do povo mistura-se à vaidade do papa e à inveja de outros artistas. Bramante de Urbino, arquiteto de Júlio II, que fora freqüentes vezes criticado com palavras sarcásticas por Michelangelo, consegue persuadir o papa a que desista do projeto e o substitua por outro: a reconstrução da Praça de São Pedro. Em janeiro de 1506, Sua Santidadc aceita os conselhos de Bramante. Sem sequer consultar Michelangelo, decide suspender tudo: o artista está humilhado e cheio de dividas.
Michelangelo parte de Roma. No dia seguinte, Bramante, vitorioso, começa a edificação da praça. No entanto, Júlio II quer o mestre de volta. Este recusa, Finalmente, encontra-se com o papa em Bolonha e pede-lhe perdão por Ter-se ido. Uma nova incumbência aguarda Michelangelo: executar uma colossal estátua de bronze para ser erguida em Bolonha. São inúteis os protestos do artísta de que nada entende da fundição desse metal. Que aprenda, responde-lhe o caprichoso papa. Durante 15 meses, Michelangelo vive mil acidentes na criação da obra. Escreve ao irmão: "Mal tenho tempo de comer. Dia e noite, só penso no trabalho. Já passei por tais sofrimentos e ainda passo por outros que, acredito, se tivesse de fazer a estátua mais uma vez, minha vida não seria suficiente: é trabalho para um gigante".
O resultado não compensou. A estátua de Júlio II, erguida em fevereiro de 1508 diante da lgreja de Sào Petrônio, teria apenas quatro anos de vida. Em dezembro de 1511, foi destruida por uma facção política inimiga do papa e seus escombros vendidos a um certo Alfonso d'Este, que deles fez um canhão.
De volta a Roma responde a novo capricho de Júlio II de decorar a Capela Sistina. O fato de ser antes de tudo um escultor não familiarizado com as técnicas do afresco não entrava nas cogitações do papa tentativas de fugir da encomenda. O Santo Padre insiste - segundo alguns críticos, manejado habilmente por Bramante que, dessa forma, desejaria arruinar para sempre a carreira de Michelangelo - e o artista cede mais uma vez. A incumbência (insólita e extravagante) é aceita.
Em 10/05/1508, começa o gigantesco trabalho com algumas exigências:
1) recusar o andaime construído por Bramante. Determina outro, segundo suas próprias idéias.
2) manda embora os pintores, ajudantes e instrutores na técnica do afresco.
3) resolve pintar não só a cúpula da capda mas também suas paredes. É a fase herói trágico.
Tal como Prometeu, rouba ao Olimpo o fogo de sua genial inspiração, embora os abutres das vicissitudes humanas não deixem de acossá.lo. O trabalho avança muito lentamente. Por mais de um ano, o papa não lhe paga um cêntimo sequer. Sua família o atormenta com constantes pedidos de dinheiro. A substância frágil das paredes faz logo derreter as primeiras figuras que esboçara. Impaciente com a demora da obra, o papa constantemente vem perturbar-lhe a concentração para saber se o projeto frutificava. O diálogo é sempre o mesmo: "Quando estará pronta a minha capela?" -- "Quando eu puder!" Irritado, Júlio II faz ameaças. Chega a agredir o artista a golpes de bengala, que tenta fugir de Roma. O papa pede desculpas e faz com que lhe seja entregue a soma de 500 ducados. O artista retoma a tarefa.
Finados de 1512 retira os andaimes que encobriam a perspectiva total da obra e admite o papa à capela. A decoração estava pronta. A data dedicada aos mortos convinha bem á inauguração dessa pintura terrível, plena do Espírito do Deus que cria e que mata. Todo o Antigo Testamento está ai retratado em centenas de figuras e imagens dramáticas, de incomparável vigor e originalidade de concepção: o corpo vigoroso de deus retorcido e retesado no ato da criação do Universo; Adão que recebe do Senhor o toque vivificador de Sua mão estendida, tocando os dedos ainda inertes do primeiro homem; Adão e Eva expulsos do Paraíso; a embriaguez de Noé e o Dilúvio Universal; os episódios bíblicos da história do povo hebreu e os profetas anunciando o Messias. Visões de um esplendor nunca dantes sonhado, imagens de beleza e genialidade, momentos supremos do poder criador do homem.
No olhar do Papa Júlio II naquele dia de Finados de 1512 já se prenunciavam os olhares de mihões de pessoas que, ao longo dos séculos e vindas de todas as partes do mundo, gente de todas as raças, de todas as religiões, de todas as ideologias políticas, se deslumbrarão diante da mais célebre obra de arte do mundo ocidental.
Vencedor e vencido, glorioso e alquebrado regressa a Florença. Vivendo em retiro, dedica-se a recobrar as forças minadas pelo prolongado trabalho; a vista fora especialmente afetada e o mestre cuida de repousá-la. Mas o repouso é breve: sempre inquieto volta a entregar-se ao projeto que jamais deixara de amar: o túmulo monumental de Júlio II.
Morto o papa em fevereiro de 1513, no mês seguinte o artista assina um contrato comprometendo-se a executar a obra em sete anos. Dela fariam parte 32 grandes estátuas. Uma logo fica pronta. É o Moisés considerada a sua mais perfeita obra de escultura. Segue-se outra, Os Escravos, que se acha no Museu do Louvre, doada ao soberano Francisco I pelo florentino Roberto Strozzi, exilado na França, que por sua vez a recebera diretamente do mestre em 1546. Como breve foi o repouso, breve foi a paz.
Leão X |
Papa Clemente VII |
Restabelecida a paz, o Papa Clemente, fiel a seu nome, perdoa-lhe os "desvarios" políticos e o estimula a reencetar o trabalho da Capela dos Médici. Com furor e desespero, Michelangelo dedica-se á obra. Quando o interrogam sobre a escassa semelhança das estátuas com os membros da paderosa familia, ele dá de ombros: "Quem perceberá este detalhe daqui a dez séculos?
Uma a uma emergem de suas mãos miraculosas as alegorias da Ação, do Pensamenlo e as quatro estátuas de base: O Dia, A Noite, A Aurora e O Crepúsculo, terminadas em 1531. Toda a amargura de suas desilusões, a angústia dos dias perdidos e das esperanças arruinadas, toda a melancolia e todo o pessimismo retletem-se nessas obras magnificas e sombrias.
Os Últimos Dias: Solidão e Produção
Com a morte de Clemente VII em 1534, Michelangelo - odiado pelo Duque Alexandre de Medici - abandona mais uma vez Florença. Agora, porém, seu exilio em Roma será definitivo. Nunca mais seus olhos contemplarão a cidade que tanto amou. Vinte e um anos haviam passado desde sua última estada em Roma: nesse periado, produzira três estátuas do monumento inacabado de Júlio II, sete estátuas inacabadas do monumento inacabado dos Médici, a fachada inacabada da lgreja de São Lourenço, o Cristo inacabado da
lgreja de Santa Maria della Minerva e um Apolo inacabado para Baccio Valori.
Nesses vinte e um anos, perdeu a saúde, a energia, a fé na arte e na pátria. Nada parecia mantê-lo vivo: nem a criação, nem a ambição, nem a esperança. Michelangelo tem 60 anos e um desejo: morrer.
Roma, entretanto, lhe trará novo alento: a amizade com Tommaso dei Cavalieri e com a Marquesa Vittoria Colonna, afastando-o do tormento e da solidão, permite-lhe aceitar a oferta de Paulo III, que o nomeia arquiteto-chefe, escultor e pintor do palácio apostólico. De 1536 a 1541, Michelangelo pinta os afrescos do Juízo Universal na Capela Sistina. Nada melhor que suas próprias idéias sobre pintura para definir essa obra e o homem que a criou: "A boa pintura aproxima-se de Deus e une-se a Ele... Não é mais do que uma cópia das suas perfeições, uma sombra do seu pincel, sua música, sua melodia... Por isso não basta que o pintor seja um grande e hábil mestre de seu oficio. Penso ser mais importante a pureza e a santidade de sua vida, tanto quanto possível, a fim de que o Espírito Santo guie seus pensamentos..."
Terminados os afrescos da Sistina, Michelangelo crê enfim poder acabar o monumento de Júlio II. Mas o papa, insaciável, exige que o ancião de 70 anos pinte os afrescos da Capela Paulina - A Crucfliurão de São Pedro e A Conversão de São Paulo). Concluídos em 1550, foram suas últimas pinturas.
Durante todo esse tempo, os herdeiros do Papa Júlio II não cessararn de perseguir o artista pelo não cumprimento dos vários contratos por ele assinados para o término da obra. O quinto contrato seria cumprido. Em janeiro de 1545, inaugurava-se o monumento. O que restara da plano primitivo? Apenas o Moisés, no inicio um detalhe do projeto, agora o centro do monumento executado. Mas Michelangelo estava livre do pesadelo de toda a sua vida.
Os últimos anos do mestre ainda foram fecundos, embora numa atividade diferente: a arquitetura. Dedicou-se ao projeto de São Pedro, tarefa que lhe custou exaustivos esforços devido às intrigas que lhe tramaram seus acirrados inimigos. Projetou também o Capitólio - onde se reúne o Senado italiano - e a Igreja de São João dos Florentinos (cujos planos se perderam).
Ainda encontra energias para esculpir. Renegando cada vez mais o mundo, Michelangelo busca uma união mística com o Cristo. Sua criação, como a de Botticelli no final da vida, é toda voltada para as cenas da Paixão. De pé, aos 88 anos de idade, ele elabora penosa e amorosamente uma Pietá, até que a doença o acorrente em definitivo ao leito, onde - com absoluta lucidez - dita um testamento comovente, pedindo "regressar pelo menos já morto" à sua adorada e inesquecível Florença, doando sua alma a Deus e seu corpo á terra. O seu gênio, ele já o tinha legado á humanidade.
Uma vez concluída, as representações de nudez na própria Capela foram consideradas obscenas e um sacrilégio. Após a morte de Michelangelo, decidiu-se obscurecer os órgãos, o que foi feito por um aprendiz de Michelangelo, Daniele da Volterra. Quando o trabalho foi restaurado em 1993, decidiu-se deixar algumas das figuras ainda cobertas, como documentos históricos. A censura sempre perseguiu Michelangelo, que às vezes era chamado de "inventor delle porcherie" ("inventor das obscenidades").
Em 1547, Michelangelo foi apontado como arquiteto da Basílica de São Pedro no Vaticano. Anos mais tarde, em 18/02/1564, Michelangelo morre, em casa, em Roma aos 88 anos de idade, solicitando em testamento que seu corpo fosse enterrado em Florença.
Esta Biografia foi retirada de "Gênios da Pintura" do Círculo do Livro
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=197
Principais Obras em afresco de Michelangelo
Gênesis (teto da Capela Sistina)
O Juízo Final (teto da capela sistina)
Martírio de São Pedro
Conversão de são Paulo
A Batalha de Centauros (baixo relevo de tema mitológico)
A Madona Dos degraus (relevo)
A sagrada Família
Suas principais esculturas foram:
- O cupido adormecido
- Baco Bêbado
- Adônis Morrendo
- A Virgem
- Pietá
- Davi
- Moisés
- Raquel
- Léa
- Família Real Médici
Livro de Poesias e Coletânea de Rimas
Arquitetura:
- A cúpula da Basílica de São Pedro em Roma
- o túmulo papal
Frases de Michelangelo:
"A perfeição é feita de pequenos detalhes - não é apenas um detalhe."
"Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos como os meus já a vêem."
"Se as pessoas ao menos soubessem o quão duro trabalho para ser mestre no que faço, não lhes pareceria tão maravilhoso."
"Observei o anjo gravado no mármore, até que eu o libertasse."
"Espero que eu sempre possa desejar mais do que consigo fazer."
Para Michelangelo, a missão do escultor era libertar as formas que já se encontravam dentro da pedra. Kenneth Schuman e Ronald Paxton enxergaram aí um gancho para um inusitado livro de auto-ajuda: O Método Michelangelo - Revele sua obra-prima e crie uma vida extraordinária, Best Seller, 288 pgs. A mensagem é que existe uma obra-prima dentro de cada um de nós, que pode ser revelada por meio da determinação, da superação de obstáculos e de outras estratégias inspiradas na vida e na obra do artista italiano. Leia mais em "Michelangelo inspira livro de auto-ajuda" - Máquina de escrever, Luciano Trigo