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sábado, 19 de junho de 2010

Chico Buarque

Jamais se passa pela história da MPB sem esbarrar no Chico. Um dos grandes Gênios que temos na música, teatro e literatura.

Filho de Sergio Buarque de Hollanda um historiador brasileiro que dirigiu o museu do Ipiranga e lecionou na Universidade de Roma.

Mas, como diz o Chalita: "o fruto nunca cai longe da árvore".
Em criança, Chico teve contato com grandes personalidades da nossa cultura, que frequentavam sua casa, como: Vinicius de Moraes seu parceiro mais tarde; Baden Powell e João Gilberto. Influenciado por sua mãe a pianista Maria Amélia Cesário Alvim e por sua irmã Miúcha, grande ícone da Bossa Nova.

Chico começou a publicar suas primeiras crônicas no jornal por ele batizado de Verbâmidas, do Colégio Santa Cruz. Em 1969 abandonou o 3º ano na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), motivado pelo clima de repressão que tomava conta das universidades após o golpe de 1964.

No ano seguinte, Começou a se apresentar em shows de colégios e festivais e gravou pela RGE o primeiro compacto, com canções como Pedro Pedreiro e Sonho de um Carnaval. Desde então, não parou mais de compor e de se apresentar em festivais internacionais de música, além do programa O Fino da Bossa, da TV Record. Ainda em 1965, conheceu Gilberto Gil em um bar, reduto paulista da Bossa Nova. Em um show estudantil, conheceu Caetano Veloso, que se entusiasmado ao ouvi-lo cantando Olê, olá.

Em 1966 no II Festival da MPB tornou-se conhecido no Brasil inteiro pelo 1º lugar de sua música A Banda, interpretada por Nara Leão empatada com Disparada, de Geraldo Vandré. Daí começou a fazer história. Foi a revolução da música brasileira nos tempos duros da ditadura. Censurado por qualquer motivo, mas sempre driblava as barreiras da repressão. Críticas negativas nas entrelinhas de suas músicas, com cuidados redobrados nas composições. Então criou Julinho da Adelaide, pseudônimo para burlar a censura e compôs três canções: Milagre Brasileiro, Acorda Amor e Jorge Maravilha.

Foi obrigado a se exilar na Itália devido ameaças. Ao retornar ao Brasil continuou sendo um dos artistas mais ativos na crítica política e na luta pela democratização, através de suas letras. Fez parcerias com Tom, Vinícius, Toquinho, Milton, Francis Hime, Edu Lobo e Caetano.

Chico é muito respeitado pelo espaço conquistado na literatura e no teatro. Musicou para o teatro Morte e vida Severina e o infantil Os Saltimbancos, que se tornou muito popular. Escreveu as peças Roda Viva e Calabar, que foram censuradas pela ditadura, Gota d'Água, Ópera do malandro e os livros: Estorvo, Benjamim, Budapeste, que virou filme e ganhou o Prêmio Jabuti, e o recente Leite Derramado.

Hoje sua significância e referência não se apegam às necessidades de divulgações nas mídias populares, são 66 anos de verdadeira contribuição à história brasileira.

Revivendo a história sobre Calabar - o elogio da traição,

Peça teatral sobre a traição de Calabar, personagem da história brasileira que foi considerado traidor por ficar ao lado dos holandeses na guerra contra Portugal. Na década de 70, a dramaturgia nacional era alvo do mesmo patrulhamento que cerceava a liberdade de músicos, políticos, escritores, educadores e tantos outros. E neste contexto dois importantes artistas escrevem uma das páginas mais importantes do teatro brasileiro contemporâneo.

Exemplo de utilização da matéria histórica como instrumento gerador de reflexão, Calabar - o elogio da traição, de Chico Buarque de Hollanda e Ruy Guerra, é relançado pela Civilização Brasileira com novo projeto gráfico. Escrita entre os anos de 1972 e 1973, no auge da ditadura militar brasileira e as vésperas do abril florido da revolução portuguesa. Alegoria histórica que se passa na época das invasões holandesas em Pernambuco, no sécXVII.

Aborda a questão da lealdade e da traição, numa clara alusão à conjuntura política do período em que foi escrito. Com sensibilidade e inteligência, a peça amplia o debate ideológico de forma provocativa, irônica, quase caricatural. Os conceitos de traidor e traição, se subjetivos tornam-se ainda menos palpáveis na obra de Chico e Ruy. Afinal, onde está a traição: nos mantenedores da ordem ou na rebeldia dos heróis? E quem são, de fato, os heróis e os vilões?

Fernando Peixoto, em 1980 relatou o texto “mal-comportado, e por isso estimula a elaboração de um espetáculo debochado, capaz de assumir a quase anárquica, mas organizada colagem e a justaposição de imagens e épocas".

A Peça dividiu o público, espalhou pontos de interrogação, dúvidas e perplexidades. Surpreendeu pelo atualizado deboche crítico, fundamentado num confronto realista com temas essenciais de nossa existência de nação social-econômica-política- culturalmente ainda colonizada num tímido mas empenhado esforço de construção de uma democrática cultura nacional-popular. Há sensibilidade e inteligência na utilização da matéria histórica como instrumento capaz de instaurar uma conseqüente reflexão que ultrapassa os limites de determinadas circunstâncias político-econômicas e amplia o debate ideológico de forma irônica, provocativa, apoiada em extrema e contagiante teatralidade, usando a postura crítica e a desmedida coragem de assumir o grotesco. A obra desmistifica o conceito de traidor e a noção vazia e abstrata de traição.

Texto
"E se vocês rirem de mim. Se eu for alvo de chacotas e chalaças. Se for ridículo na jaqueta de veludo.
Ou nas ceroulas de brim. Ou porque falo tanto de caganeira e bacalhau. É bom pensarem duas vezes, porque, ainda mesmo assim. Com lombrigas dançando dentro da barriga. Com a Holanda, a Espanha e toda a intriga. Eu sou aquele que, custe o que custar. Acerta o laço e tece o fio. Que enforca Calabar."
Tanto mar


A peça dirigida por Fernando Peixoto relativiza a posição de Domingos Fernandes Calabar no episódio histórico em que ele preferiu ficar ao lado dos holandeses contra a coroa portuguesa. Era uma das mais caras produções teatrais da época, custou cerca de trinta mil dólares e empregava mais de oitenta pessoas.

O Brasil sob a opressão era comum o uso das metáforas pelos artistas, a figura de Armando Falcão, Ministro da Justiça, encarregado dessa tarefa canhestra e denunciar a situação atual.

Chico mestre no uso dessas figurações: e o episódio histórico do traidor Calabar, comum em todos os livros didáticos como um dos maiores exemplos de perfídia - serviu de mote para justamente questionar a chamada versão oficial.

Na peça, Domingo Calabar passa de comerciante que visava o lucro, traíra os portugueses e colonos brasileiros - para um quase herói, que tinha por objetivo não o ganho pessoal, mas o melhor para o povo brasileiro que na verdade era um conceito inexistente, no sécXVIII.

A intenção de Chico e Guerra porém, era denunciar um erro histórico, nem tinha a pretensão de promover uma revisão: o alvo era, justamente, o próprio regime militar, sua censura, os veículos de comunicação que, engessados pelas versões dos fatos sempre acordes com o sistema, passavam ao povo imagens que precisavam ser questionadas em sua veracidade.

Dentre as músicas que compõem o repertório da obra, algumas foram sucesso, como "Não existe pecado ao sul do Equador" interpretada por Ney Matogrosso; "Cala a boca, Bárbara", e outras.

A censura do regime militar deveria aprovar e liberar a obra em um ensaio especialmente dedicado a isso. Depois de toda a montagem pronta e da primeira liberação do texto, veio a espera pela aprovação final. Foram três meses de expectativa e, em 20/10/1974, o general Antônio Bandeira, da Polícia Federal, sem motivo aparente, proibiu a peça, proibiu o nome Calabar do título e proibiu que a proibição fosse divulgada.

O prejuízo para os autores e para o ator Fernando Torres, produtores da montagem, foi enorme e 6 anos mais tarde, uma nova montagem estrearia, desta vez, liberada pela censura.

O livro - Publicado em 1994, pela editora Civilização Brasileira, Calabar já teve 23 edições. A peça teatral ( musical) "Calabar- O elogio da traição ", foi representada em Belo Horizonte, em 2009 com a produção de Athenas Produçoes, no teatro Cesciatti ( Palacio das Artes ) Um belíssimo espetáculo com o ator Menotti Orlandi representando Mauricio de Nassau !

Obrigada Chico!! Pelos anos de genialidade.
Mi - Cps, 19/06/10