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domingo, 8 de agosto de 2010

Sobre Viktor Emil Frankl

Médico psiquiatra austríaco, fundador da escola da Logoterapia, que estuda o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência. Se correspondia com Freud. Conferenciou, sobre: "A respeito do sentido da vida". Entra no círculo intelectual liderado por Alfred Adler, se desentendem e no ano seguinte é excluído.

Diretor do pavilhão das mulheres suicidas do hospital psiquiátrico de Viena. Quando os nazistas tomam o poder na Áustria, Frankl não obedece a ordem de eutanásiar doentes mentais sob seus cuidados correndo risco de vida.

Por ser judeus é deportados. Libertado no fim da guerra, onde soube que sua mulher morreu de esgotamento no campo de Bergen-Belsen e seus pais e irmão no Holocausto nazista. Experiência marcante para seus escritos na obra terapêutica, incapaz de manter, em tal situação desumanizadora, a capacidade de manter a liberdade do espírito.

Nos 25 anos pós guerra, Frankl foi diretor da policlínica de neurologia de Viena. Obtém doutorado em filosofia, cujo tema: "O Deus inconsciente". Torna-se professor de neurologia da Universidade de Viena. Em 1970, em San Diego, Califórnia é fundado o primeiro instituto de logoterapia do mundo, universidade federal que lecionará.Nos EUA lecionou como professor visitante nas Universidades de Harvard, Dallas e Pittsburgh. Atingiu notoriedade mundial, por suas teses contrariarem as correntes psicanalíticas tradicionais e dominantes. Livros: mais de 30 idiomas.

Título de doutor honoris causa de diversas instituições de ensino do mundo, inclusive da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no Brasil. Conferências, visitou muitos países, Brasil em 1984 (Porto Alegre), 1986 (Rio de Janeiro) e 1987 (Brasília). Atualmente, institutos, centros de estudos e associações de logoterapia são encontrados em mais de 30 países.

Obra pouco conhecida nos países de língua portuguesa e é comumente ignorada pelas principais correntes da psicanálise (Sigmund Freud, Carl Gustav Jung, Alfred Adler e Jacques Lacan).

Diferenciava de forma prática e simples assim:
- psicanálise “o paciente tem de deitar-se num divã e contar coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de serem contadas”.
- logoterapia “o paciente pode ficar sentado normalmente, mas tem de ouvir coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de serem ouvidas”.

Pai da Logoterapia ou "Terceira Escola Vienense da Psiquiatria", se distanciou de Freud no que se refere à etiologia sexual das neuroses e também no que se refere à religião. Frankl considera que a neurose individual poderia ser, em alguns casos, a expressão da recusa da religião.

Segundo Frankl, existiria no ser humano mais precisamente percebido em seus pacientes um desejo ou uma vontade de “sentido”, o vazio existencial que difere de complexo como o de inferioridade (Adler) ou o de frustrações sexuais (Freud) .

Para ele, a neurose revelaria antes de mais nada um ser frustrado de sentido, o que o levou a concluir que a exigência fundamental do homem não é nem a emancipação sexual, nem a valorização do self, mas a "plenitude de sentido", a compensação sexual não seria nada além de um Ersatz para com a falta de sentido existencial. Por isso, não se negligencia a espiritualidade do analisado e a logoterapia passa a estar centrada no inconsciente espiritual, mais do que nas pulsões.

Em "O Deus inconsciente", Frankl repudia a psicanálise tradicional, declarando que "Degradando o 'eu' em simples epifenômeno, Freud, por assim dizer, traiu o 'eu' em favor do 'isso'; mas ao mesmo tempo ele, por assim dizer, insultou o inconsciente, vendo nele nada além do que é do 'isso' - o instintivo - deixando escapar aquilo que é do 'eu' - o espiritual".

Para o autor, haveria um hiato ontológico entre o instinto e o espírito. Ele considera o homem uma totalidade trinária e tridimensional, a saber: físico-físico-espiritual. Segundo Frankl, Freud teria negligenciado a terceira dimensão.

No seu livro A Busca do Homem por Sentido de1946, Frankl relata suas experiências como interno de campo de concentração, descrevendo seu método psicoterapêutico para encontrar sentido em todas as formas de existência (mesmo as mais sórdidas) e, daí, uma razão para continuar vivendo. Em suas próprias palavras "O homem, por força de sua dimensão espiritual, pode encontrar sentido em cada situação da vida e dar-lhe uma resposta adequada”.

Em 1983, no Prefácio que faz da sua obra Em Busca de Sentido, à edição de 1984, afirma: ...o Pós-escrito de 1984 a este livro é intitulado "A Tese do Otimismo Trágico". O capítulo se refere a preocupações dos dias de hoje e como é possivel dizer sim à vida apesar de todos os aspectos trágicos da existência humana. Espera-se que um certo "otimismo" com relação ao nosso futuro possa fluir das lições retiradas do nosso "trágico" passado..

Sua filosofia é fundamentalmente otimista e baseada na crença - fruto de sua experiência pessoal - de que o fim último da existência humana tem uma meta fora do próprio indivíduo, fim este que lhe dá o sentido da própria existência.

Outras citações úteis para a compreensão de seu pensamento podem ser invocadas, como no Prefácio que faz da Edição de 1984 à sua obra Em Busca de Sentido: Não procurem o sucesso. Quanto mais o procurarem e o transfomarem num alvo, mais vocês vão errar. Porque o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser.

E ainda, no mesmo prefácio da edição de 1984 de Em Busca de Sentido: Quero que vocês escutem o que sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira posível. E então voces verão que a longo prazo - estou dizendo a longo prazo! - o sucesso vai perseguí-los, precisamente porque voces esqueceram de pensar nele.

Finalmente: Nós que vivemos nos campos de concentração podemos lembrar de homens que andavam pelos alojamentos confortando a outros, dando o seu último pedaço de pão. Eles devem ter sido poucos em número, mas ofereceram prova suficiente que tudo pode ser tirado do homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas - escolher sua atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho.

Por essa e outras razões, Viktor Frankl é uma das figuras-chave da terapia existencial ou existencialista. Sua vida e obra é, para certos analistas, uma sequência de atos e fatos que se desencadeiam em um testemunho inquestionável do poder desafiador do espirito. Para Frankl, a "busca de sentido" é uma exata e precisa definição da natureza humana.

Em sua obra, Frankl não recomenda nenhuma religião ou confissão constituída, muito menos alguma Igreja em especial.

A todo tempo ele remete o leitor às suas próprias preferências e escolhas.

Alguns analistas entendem que um maior estudo da obra de Viktor Frankl seria capaz de ajudar a psicanálise a se libertar de dogmas problemáticos para a sua coerência.

Mi, Cps 16/08/10