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terça-feira, 31 de agosto de 2010

NARCISO e ECO

O mito conta que Narciso, um jovem de singular beleza, filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. No dia de seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura. Ao observar o reflexo de seu rosto nas águas de uma fonte, apaixonou-se pela própria imagem e ficou a contemplá-la, tornou-se indiferente aos sentimentos alheios, desprezou o amor da ninfa Eco e seu egoísmo provocou o castigo dos deuses, que o fez admirar-se até consumir-se.  (Na psiquiatria e particularmente na psicanálise, o termo narcisismo designa a condição mórbida do indivíduo que tem interesse exagerado pela própria imagem).

1ª Versão - (renascentistas) Eco era uma bela Oréades, (as ninfas das montanhas), adorava sua própria voz, amava os bosques e os montes onde muito se distraía. Era querida por Diana a quem acompanhava em suas caçadas. Tinha, no entanto, um defeito: falava demais e sempre queria dar a última palavra em qualquer conversa ou discussão. Em certa ocasião, a deusa Hera desconfiou, com razão, que seu marido Zeus se divertia com as Oréades, veio à terra a fim de flagrá-lo com suas amantes. Eco tentou distraí-la com uma conversa ininterrupta de forma a possibilitar que o deus e as ninfas escapassem. Finalmente a deusa conseguiu livrar-se dela e, chegando ao campo onde os amantes estavam não encontrou ninguém. Percebendo que tinha sido lograda, resolveu castigá-la: só seria capaz de falar repetindo o que os outros dissessem.

2ª Versão - (Segundo Ovídio), Zeus havia usado do dom da fala de Eco para distrair a esposa, a fim de continuar seu adultério. Hera logo descobriu o ardil e condenou-a para sempre repetir apenas as últimas palavras das frases que os outros diziam (ecolalia). A ninfa perdia assim seu mais precioso dom e aquilo que mais amava. Enquanto vagava em seu sofrimento, noutra parte havia um homem chamado Narciso. Era ele tão belo que mulheres e homens ao verem-no logo se apaixonavam. Mas Narciso, que parecia não ter coração, não correspondia a ninguém. Certo dia, vagando Eco pelos bosques, encontrou o belo mancebo por quem caiu de amores. Como não podia falar, limitou-se a segui-lo, sem ser vista. O jovem, porém, estando perdido no caminho, perguntou: "Tem alguém aqui?" Ao que obteve apenas a resposta: "Aqui, aqui, aqui...".

Narciso intimou a quem respondia para sair do esconderijo. Eco apareceu gesticulando para dizer do grande amor que lhe devotava. Narciso, chateado com a quantidade de pessoas a amarem-no, rejeitou também à bela ninfa. A pobre Eco, tomada de desgosto, rezou para que Afrodite lhe tirasse a vida. A deusa, entretanto gostava daquela voz, que deixou-a viver.

Segundo Ovídio, um rapaz apaixonou-se depois por Narciso e desprezado, orou aos deuses por vingança, sendo atendido por Nêmesis (a deusa que arruina os orgulhosos), que decidiu fazer com que o belo moço sofresse daquele mesmo desprezo com que aos outros tratava: fê-lo cair de amores por seu próprio reflexo. Sem poder jamais ser correspondido pela imagem, morre de desgosto, indo para o País de Hades, a terra dos criminosos, onde passa a eternidade atormentado pela visão do próprio reflexo nas águas do rio Estige.

Segundo outras fontes:
- Eco era uma ninfa que tinha maravilhosos dons de canto e dança, que desprezava os amores de qualquer homem. O deus Pan se enamora por ela, mas obtém apenas o desdém. Tolhido em sua lascívia, Pan se enfurece, ordenando aos seus seguidores que a matem. Eco foi então estripada, e seus pedaços espalhados por toda a Terra. A deusa da Terra, Gaia, incorporou os pedaços da ninfa, com os restos de sua voz, que repetem as últimas palavras que os outros dizem.

- Uma ninfa bela e graciosa tão jovem quanto Narciso,chamada Eco e que amava o rapaz em vão. A beleza de Narciso era tão incomparável que ele pensava que era semelhante a um deus, comparável à beleza de Dionísio e Apolo. Como resultado disso, Narciso rejeitou a afeição de Eco, desesperada, definhou melancolicamente. Para dar uma lição ao rapaz, a deusa Némesis o condenou a apaixonar-se pelo seu próprio reflexo na lagoa de Eco. Encantado Narciso abaixou no baranco do rio caiu e morreu. As ninfas construíram-lhe uma pira, mas quando foram buscar o corpo, apenas encontraram uma flor no seu lugar: o narciso.

Outras variantes dessa versão, Eco e Pan casaram e chegaram a ter um filho, chamado Iambe.

Contemporaneando
Freud acreditava que algum nível de narcisismo constitui uma parte de todos desde o nascimento.

Andrew Morrison afirma que, em adultos, um nível razoável de narcisismo saudável permite que um indivíduo equilibre a percepção de suas necessidades em relação às de outrem.

Em psicologia e psiquiatria, o narcisismo excessivo é reconhecido como um estado patológico.

Os termos "narcisismo" e "narcisista" são freqüentemente utilizados como pejorativos, denotando vaidade ou egoísmo. Quando aplicado a um grupo social, o conceito tem relação com o conceito de elitismo e pode se apresentar como diversas formas de pensamento que favorecem as mais prósperas camadas sociais.

Na literatura, Paulo Coelho, em O Alquimista, utilizou como prefácio o mito, usando também a emenda que Wilde escreveu sobre o que ocorreu depois da morte de Narciso.

Na música, Caetano Veloso utiliza o espírito do mito de Narciso em letra de Sampa, onde pretende explicar o que lhe ocorreu quando diante de São Paulo pela primeira vez: "[...] Quando eu te encarei Frente a frente Não vi o meu rosto Chamei de mau gosto o que vi de mau gosto o mau gosto É que Narciso acha feio o que não é espelho E a mente apavora o que ainda Não é mesmo velho Nada do que não era antes quando não somos mutantes [...]"