Arte Literária sob a visão marxista é parte da Ideologia, mas pode se distanciar ou confrontar com a classe dominante e a crítica inserida na arte camufla denúncia e mimetiza a realidade.
Brasil, anos 70 - Ditadura Militar e Zé Ramalho lança a música “Admirável Gado Novo”.
A letra induz a analise do social, luta de classes e a manutenção do modelo social através da alienação do povo, na metáfora de gados ou boiadas.
Crítica ao regime ditatorial do período em que ela foi composta e sistema capitalista, época tão nebulosa do Brasil, onde a sociedade era controlada, condicionada e parecia conformada.
O exemplo da ordem de um “admirável” mundo, escondia as desigualdades e máculas sociais.
O ponto forte da música referente a sociedade é quando caracteriza a legítima exploração de uma classe sobre as outras e na expressão “massa” é o coletivo que o capitalismo impõe aos indivíduos.
A muita produtividade impede pessoas ao acesso à educação e ao conhecimento, é o “dar muito mais do que receber” (modo de produção capitalista onde o trabalhador produz muito e recebe pouco).
A condição da classe dominada aumenta o lucro dos donos dos meios de produção e igualmente degrada o trabalhador que quanto mais trabalha menos recebe.
No Brasil vemos nos campos, trabalhos em regimes escravocratas; nas cidades, as altas cargas de trabalho que constantemente suprimi os direitos trabalhistas.
“E ter que demonstrar sua coragem à margem do que possa parecer” retrata a manifestação de um povo sofrido com o sistema, porém, sempre alegre.
“E ver que toda essa engrenagem já sente a ferrugem lhe comer...” refere-se tanto à autodestruição do capitalismo quanto a derrota do regime militar que vigorava na época.
No pensamento marxista: “o Capitalismo se autodestruiria, e venceria o Socialismo, trabalhadores formariam uma sociedade baseada na propriedade coletiva dos meios de produção, todo sistema econômico traz no seu embrião as contradições que irão destruí-lo por meio da luta de classes”.
“...vida de gado, povo marcado, povo feliz!” é o gado, manipulado (submisso, conformado, se deixa ordenhar, direcionar pelos seus “donos”) e explorado (carne, leite, couro, etc.) do nascimento até a morte. Sem contar com métodos usados para alienar, sem que os mesmos percebam evitando assim o entendimento e o questionamento favorecendo àqueles que detêm o poder, pois onde a corrupção, a impunidade é muito maior e agrava a desigualdade e os demais problemas sociais.
A massa manipulada ao bel prazer das grandes mídias, guiada a caminhos que desconhece e para fugir dos problemas, assistia programas de baixa qualidade sem questionar, assim fugia da realidade e adentravam num preocupante estado de alienação e descomprometimento social.
Lembrando que decisões mais importantes do país, (como a Independência e a Proclamação da República, por exemplo) camadas pobres da sociedade ficavam à margem de todos esses acontecimentos.
No contexto histórico em que se insere a música, o Brasil está no auge da Ditadura Militar, milhares de intelectuais e oposicionistas foram perseguidos, mortos e exilados, então artistas usam a arma do simbolismo, da metáfora, da duplicidade de sentido.
Começo de 70 o país em êxtase com a conquista da Copa do Mundo e o “Milagre Econômico”, pela invasão das multinacionais, o Governo Militar de Garrastazu Médici trata de esbanjar propagandas do regime, levando a “massa” ao entorpecimento quase total.
“lá fora faz um tempo confortável, a vigilância cuida do normal”, frase dirigida aos donos do poder, cuidar do normal e manter a “ordem” das coisas na menção simbólica à perseguição aos opositores do regime e a forma como esse sistema era mantido com o “gado” à margem da realidade da situação.
“... contemplam essa vida numa cela...” prisão é a ignorância, é o sujeitar-se a, o conformismo que dificulta a visão crítica e transformadora da sociedade, preso ao sistema e dirigido por vontades alheias, igual o rebanho no curral.
“E esperam nova possibilidade, de verem esse mundo se acabar, a arca de Noé, o dirigível, não voam nem se pode flutuar...” é a religião onde o povo foge dos problemas.
Que na própria visão de Marx a religião é a droga que anima e faz com que o explorado aceite dificuldades como sendo natural; é o suspiro oprimido, coração de um mundo sem coração e alma de condições desalmadas.
“...povo marcado sim, povo feliz!” a música foi um grito de alerta que ajudou o povo a entender a situação e a lutar para não ter uma vida de gado.
Parabéns ao Zé Ramalho e outros, pela brilhante participação na luta pelo Brasil! Muito obrigada! http://is.gd/5GG1e
Nada diferente de hoje, só que a música em nada mais contribui e o "gado" faz questão de continuar a margem da ralidade. Impressionante!
Mi - Cps, 18/02/07