Neste Conto seguramente podemos refletir sobre Dicotomia
Era uma vila de pescadores perdida no fim do mundo e naquela vila todos os dias as pessoas faziam sempre as mesmas coisas, de modo que não havia nenhuma novidade e todas as pessoas sabiam de antemão o que as outras iam dizer e por causa da enorme monotonia ninguém mais conseguia se amar.(...)
de modo que todos correram para a praia e ficaram esperando que o mar pacientemente trouxesse a coisa até a areia
e a coisa que o mar colocou na areia era um homem morto afogado.

- é, se ele morasse aqui na aldeia, teria sempre que curvar a cabeça para entrar em nossas casas, porque ele é alto demais.
E todas as mulheres sérias, fizeram sim com a cabeça e foi novamente grande o silêncio.
- eu fico imaginando como terá sido a voz desse homem, será que a voz desse homem ecoava forte ou como a brisa, será que esse homem sabia cantar canções ou será que esse homem era daqueles que diziam uma palavra e por causa dessa palavra uma mulher apanha uma flor e a coloca no cabelo?
Todas as mulheres sorriram e fizeram sim com a cabeça.
E foi grande novamente o silêncio até que uma outra mulher olhou para as mãos do homem e disse:
- eu fico pensando nessas mãos, no que elas fizeram, será que essas mãos travaram batalhas, será que brincaram com crianças, será que remaram através dos mares, será que acariciaram mulheres, será que essas mãos sabiam amar e abraçar?"
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E nesse momento, todas as mulheres riram e riram, |

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E, finalmente, enterram o
morto,mas a aldeia nunca
mais foi a mesma."
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Mi - Cps, 01/05/10
Telas a Óleo de Lídia Peraçoli / f.g.amorim