Páginas

terça-feira, 11 de maio de 2010

Monteiro Lobato

O filósofo Lobato
Modernista que liberava sua filosofia através de seus personagens infantis, onde nos legou histórias cheias de verdades e realidades.

Conciso e vigoroso, com forte dose de ironia, utilizavam uma linguagem clara e objetiva, compreensível a todos.

Sempre comprometido com causas de seu tempo, o criador do Jeca Tatu defendia campanhas pela saúde, meio-ambiente, reforma agrária e petróleo, entre outros temas atualíssimos como painel socioeconômico, político e cultural do período.

Lobato revelou o mundo rural ignorado pelos escritores de gabinete tendo sempre como personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia Nastácia e, é claro, Emília, a boneca mais esperta do planeta. Insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, ele criou aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e lendas do folclore nacional.

E fez mais: misturou todos eles com elementos da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema. No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan brinca com o Gato Félix, enquanto o saci ensina truques a Chapeuzinho Vermelho no país das maravilhas de Alice.

Mas, também fez questão de transmitir conhecimento e idéias em livros que falam de história, geografia e matemática, tornou-se pioneiro na literatura paradidática - aquela em que se aprende brincando.

“A nossa literatura é fabricada nas cidades por sujeitos que não penetram nos campos de medo dos carrapatos”.

Quantos ensinamentos e reflexões trazem suas aventuras. Verdadeiro tratado de Filosofia. Humor sutilmente afiado, palavras deliciosas que nos provocam, cutucam , incomodam nos fazendo pensar.

Certo dia, Emília convoca o Visconde de Sabugosa para auxiliá-la a escrever suas memórias. A boneca começa explicar o significado da vida, palestrando ao Visconde:

- Sei dizer coisas engraçadas e até filosóficas. (…) Sabe o que é um filósofo, Visconde?
O Visconde sabia, mas fingiu não saber. A boneca explicou:
- É um bichinho sujinho, caspento, que diz coisas elevadas que os outros julgam que entendem e ficam de olho parado, pensando, pensando, Cada vez que digo uma coisa filosófica, o olho de Dona Benta fica parado e ela pensa, pensa…
- Ficam pensando o quê, Emília?
- Pensando que entenderam.
O Visconde enrugou a testinha e quedou-se uns instantes de olho parado, pensando, pensando. Aquela explicação era positivamente filosófica.
- E como sou filósofa – continuou Emília – quero que minhas Memórias comecem com a minha filosofia de vida.
- Cuidado, Marquesa! Mil sábios já tentaram explicar a vida e se estreparam.
- Pois eu não me estreparei. A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais.(…)
O Visconde ficou novamente pensativo, de olhos no teto.
Emília riu-se.
- Está vendo como é filosófica a minha idéia? O Senhor Visconde já está de olhos parados, erguidos para o forro.(…) A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca;pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre? – perguntou o Visconde.
- Depois que morre vira hipótese. É ou não é?”

Emília está certa! A vida é um piscar de olhos!

Assim é Monteiro Lobato comprometido com a qualidade de nosso intelecto.

Mi - Base GC
Cps, 10/05/10
Linha do tempo - http://lobato.globo.com/lobato_Linha.asp