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sábado, 17 de abril de 2010

Falar s/ CORTELLA

A filosofia de um antropólogo
Filosofia - Como a filosofia pode se incorporar ao cotidiano

Definição do doutor em filosofia, apresentador, comentarista e colunista de importantes veículos de imprensa, MARIO SERGIO CORTELLA, professor titular da PUC (Pontifícia Universidade Católica).

Acredito que a filosofia seja muito importante para mostrar um caminho que explique o mundo empírico, uma estrada que nos impeça de nos tornar alienados ao cotidiano”.

Cortella, traça um paralelo entre os mundos acadêmico e corporativo, as diferentes formas de se adquirir experiência e a necessidade do lazer para o trabalhador, uma forma saudável de parar, descansar e sair da rotina.

O que se faz, porque se faz e pra onde devemos ir, são questões importantes abordadas. Acredito que a filosofia seja muito importante para mostrar um caminho que explique o mundo empírico, uma estrada que nos impeça de nos tornar alienados ao cotidiano.

Hoje em dia, vivemos a era da tacocracia (latim - ditadura do rápido). Nesta era, não há tempo para nada. Muito menos para raciocinar. Vejo que as pessoas não se espantam mais. Tem um ditado árabe de que gosto muito, “homens são como tapetes, às vezes precisam ser sacudidos”, espero que meu livro tenha esse papel.

Me lembro da existência de uma época menos afobada, mais centrada. A teia de ligações e conexões entre os indivíduos era muito menor e, assim, não se recebia tantos informações inúteis. Hoje, somos bombardeados e sofremos uma overdose sem sentido.
Acreditamos que o informar é saber, porém o saber é pensar e raciocinar
.

De que adianta, por exemplo, ter conhecimento sobre o peso dos koalas australianos, ou da formação do time de pólo-aquático feminino da Noruega?
Uso a grande frase do pensador Marx, escrita em seu Manifesto Comunista , que define perfeitamente o mundo de hoje: “Tudo que é sólido, se desmancha no ar”.

O mundo acadêmico é mais elástico, menos imediatista. Ao contrário do corporativo, que é mais veloz, na eterna busca por resultados. Do empirismo, podemos aprender as estratégias, para superar objetivos e ultrapassar os desafios num mundo em que se recicla a cada minuto.
Por outro lado, a academia oferece uma base educacional que ajuda os empresários a achar mais fácil uma metodologia e, assim, encontrar rapidamente a solução de um problema. Lidar com a produção de idéias no mundo acadêmico é menos constrangedor do que produzir idéias, que precisam obrigatoriamente ter um retorno financeiro no mundo corporativo.
Experiência tem a ver com intensidade. Não maturidade. Existem dois tipos de experiência: a extensa, adquirida com o passar dos anos, e a intensa, acumulada pela quantidade de fatores vividos em pequenos espaços de tempo.

Um médico que trabalhou num pronto-socorro por 3 anos tem muito mais experiência do que um que só faz consultas há 10 anos, por exemplo. Equipes boas são aquelas que conseguem mesclar experiências, intensas ou extensas, não importando a idade.
A vivacidade, assim como a experiência, não tem relação com a idade, e sim, com o fazer o que gosta.


Veja o show dos Rolling Stones, por exemplo. O Mick Jagger é o exemplo vivo disso. Ele tem uma energia muito maior do que a da Britney Spears, por exemplo, que, acredito, gosta mais do resultado daquilo que faz e não do trabalho em si.

Domenico de Masi, grande pensador, criou o Ócio Criativo, no qual, as empresas organizam e coordenam aquilo que acham importante para o funcionário exercer no seu tempo livre. Isso não é lazer, é trabalho! Por isso, digo que as empresas precisam implementar o Ócio Recreativo. Uma iniciativa levada a sério na qual o funcionário decide como deseja gastar seu tempo. É como o recreio nas escolas, as crianças são livres para recriar, serem elas mesmas.

O carnaval é um grande exemplo do ócio recreativo. Esse, assim como todos os feriados brasileiros, demonstram o quanto a nossa população é sã. É saudável parar, descansar e sair da rotina. Maluco, afirmo, é quem não pára.

Tecnologia é ferramenta, não é o objetivo. A escada nos serve para ir a algum lugar e não para ficarmos estáticos no meio desta. A reflexão filosófica é muito importante justamente por isso, para nos ajuda a alertar dos nossos perigos. Por exemplo, a Internet é um dos maiores avanços tecnológicos. Mas a maioria das pessoas não navega, naufraga. Comportam-se como Cristóvão Colombo, que saiu sem saber para onde ia e chegou em um lugar no qual não sabia onde estava.

De que adianta ter a escada, se ninguém sabe subir nela devidamente. As pessoas precisam refletir antes de ter tais ferramentas.

Fonte: Canal RH - 01/03/2006 / Liv Soban