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terça-feira, 13 de abril de 2010

Rui Barbosa

Prece de Natal

"Mistério Divino, em cujo seio, há mil e novecentos anos, se desenvolve a civilização humana, perdoa aos que deste lugar de fraqueza e paixões ousam desflorar com o pensamento a Tua pureza. Os moldes da única eloqüência capaz de Te não profanar quebram-se com a última inspiração dos Teus livros sagrados".

"Desde então, de cada vez que o homem se desengana do homem, e a alma precisa do ideal eterno, na melancolia das épocas agitadas e tenebrosas, diante da injustiça ou da dúvida da opressão ou da miséria, é no cristal das Tuas fontes que se vai saciar a nossa sede. Deixaste-as abertas na rocha a Tua verdade, e há dezenove séculos que borbotam com o mesmo frescor sempre das primeiras lágrimas daquela cuja eternidade virginal desabotoavam hoje na flor da redenção cristã".

"Tamanha é a Tua grandeza que excede todas as do Universo e da razão: o espaço, o tempo, o infinito, acima dos quais a cruz da Tua tragédia espantosa parece maior que os vôos da metafísica, as imensidades dos cálculos e as hipóteses do sonho. Daí a palavra e a imaginação recuam assombradas, balbuciando. A criatura sente o Teu amor, mas tremendo. Vê-se alvorecer a eternidade na magnificência de um abismo que se rasga no Céu; mas nas suas arestas alguma coisa há de sombra e ameaça. De onde, porém Tu penetras no coração, de todos com a doçura de uma carícia universal, é daquele presépio, onde a Tua bondade nos amanheceu um dia no sorriso de uma criança."